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Orlando com autistas - O que você precisa saber antes de ir
- Créditos/Foto:Paulo Basso Jr.
- 26/Julho/2024
- Paulo Basso Jr.
Viajar para Orlando com autistas é o sonho de muitos famílias, mas junto ao desejo, vem os temores: como será durante o voo? Será que dá para aproveitar os parques? O que fazer com crianças e adolescentes? Para responder essas e outras questões, eu conto aqui como foi a experiência com meu sobrinho por lá. Spoiler: eu faria tudo de novo
De mãos dadas com o Woody, Bernardo brincou, dançou, riu, tirou fotos e saltitou de alegria. Desde o momento em que tinha colocado os pés no Hollywood Studios, ele não havia parado de repetir o nome do famoso xerife de Toy Story. Enfim, estava em êxtase – um típico efeito que os parques da Disney World costumam provocar nas crianças (e nos marmanjos, também).
Hoje com 5 anos, o pequeno Bê, como a família o chama, foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) quando tinha pouco menos de 2 anos. Acompanhado dos pais, Heitor Piffer Siqueira e Milena Teves, da irmãzinha Isabela e da tia Dani, ele passou uma semana ao meu lado visitando diversos parques temáticos em Orlando.
Juntos, nos planejamos por semanas a fio com a ajuda de diversos profissionais especializados e viajamos para descobrir como a cidade da Flórida está preparada para receber crianças e adolescentes neurodivergentes.
Antes de contar os detalhes desta história, porém, e sem me alongar tanto em questões médicas, já que esta é uma reportagem de viagem, e não de saúde, é preciso desmistificar alguns pontos e livrar-se de preconceitos.
Autismo
O autismo não é um comportamento, um sentimento ou uma oscilação de humor, mas sim um transtorno de espectro amplo que impacta, principalmente, a interação social e as habilidades de comunicação. Isso significa que não há um autista igual ao outro, embora eles sejam clinicamente classificados em até três níveis, que variam de acordo com o suporte que necessitam.
O Bê, por exemplo, não enfrenta grandes problemas com questões sensoriais, como olfato, tato e odor, mas tem pouca flexibilidade cognitiva, ou seja, apresenta dificuldade em aceitar que as coisas podem não sair como esperado ou com mudanças de rotina, além de se apegar a uma única atividade por muito tempo, entre outras questões. Ele é diagnosticado no nível 2, numa escala em que o 3 precisa de mais suporte, e o 1, menos.
Como se isso não fosse o suficiente para dificultar a vida dos parques temáticos na hora de criar uma política de acessibilidade única válida para todas as pessoas, é preciso considerar ainda uma séria de outros fatores, como deficiências física, auditiva ou visual. Mas o fato é que esses protocolos existem, estão à disposição e devem ser seguidos antes mesmo de as malas serem feitas. Assim, aumentam consideravelmente as chances de o lugar mais feliz do mundo ser, se fato, feliz para todos.
Planejamento
Não existe uma regra geral, mas muitos autistas se sentem mais confortáveis quando têm rotinas preestabelecidas e controle do que está acontecendo. Algumas crianças e alguns adolescentes, por exemplo, ficam bem com uma preparação elaborada, que pode ter como base o desenvolvimento de uma história em quadrinhos.
“Chamamos isso de história social: transformar as experiências em algo visual”, explica Andréa Werner, deputada estadual, autista, mãe de autista e ativista na causa PcD há mais de uma década. Eu bati um papo com ela antes da viagem, e o resultado você confere aqui.
Existem vários aplicativos gratuitos na internet que auxiliam na etapa de preparação, incluindo alguns específicos de viagens aéreas. Aqui, vale dizer que o tempo de elaborar esse processo depende muito da criança ou do adolescente autista. Conhecer e adaptar-se às características de quem viaja contigo, por sinal, é algo que será fundamental durante todo o passeio.
O voo
Durante a fase de antecipação, é importante incluir o local em que chegarão e o que pretendem fazer por lá. Além disso, é aqui que começa o preparo para o que mais preocupa os responsáveis: o voo.
“Por meio de recursos visuais, é válido explicar quando, a partir daquele momento, pegarão o avião, quantas horas passarão nele, como se alimentarão no ar, como é dormir enquanto voam e por aí vai”, explica Andréa.
Já a bordo, é importante ter em mãos trocas de roupa (questões sensoriais como olfato, por exemplo, podem levar a vômitos), um tablet com vídeos que eles gostam baixados, recursos de comunicação (para quem não é oralizado), medicações (caso receitadas) e, acima de tudo, itens que os acalmem e deixem felizes.
“Com assentimento, compreensão e participação mais ativa da criança em todo o processo, bem como os objetos que ele mais gosta e as pessoas em quem confia por perto, a experiência tende a ser muito melhor”, afirma Letícia Sena, fonoaudióloga, analista do comportamento e fundadora do Instituto Índigo, criado para desenvolver crianças e adolescentes neurodivergentes.
Se a pessoa pela qual é responsável também tem alguma questão sensorial significativa, peça orientação à terapeuta ocupacional em relação ao que pode ser feito para acalmá-la e regulá-la.
Outra informação importante em relação aos voos que têm como origem ou destino o Brasil é que os autistas têm o direito, previsto por lei, de serem acompanhados. Quem viaja com eles (apenas uma das pessoas) deve pagar, no máximo, 20% do valor da passagem. “Esse pedido deve ser feito na hora da compra dos tíquetes, e a empresa tem 48 horas para responder”, diz Andréa.
Onde ficar
Antes da viagem, durante as consultas regulares do Bernardo no Baobá, centro multidisciplinar em São Paulo que é referência em questões relacionadas ao desenvolvimento e comportamento infantil, seus pais foram orientados a prover o máximo de conforto possível durante o passeio, com o objetivo de minimizar a quebra de rotina.
Uma das ideias nesse sentido foi alugar uma casa de temporada, em vez de ficar em um hotel. Assim, ele encontraria um cenário mais familiar na hora de acordar, dormir e, sobretudo, fazer algumas das refeições, como o café da manhã, que poderia ser preparado na própria residência.
Para quem nunca foi a Orlando, vale saber que a maioria das casas de férias disponíveis por lá fica, na verdade, na cidade vizinha de Kissimmee. Há mais de 50 mil opções na região, e eu me hospedei com o Bê e a turma em uma residência geminada de quatro dormitórios (todos eles suítes) no Magic Village Views, Trademark Collection by Wyndham.
A experiência não poderia ter sido melhor, uma vez que ele (assim como nós) realmente se sentiu em casa. Tinha tudo na casa: utensílios domésticos, roupas de cama, mesa e banho, equipamentos eletrônicos, wi-fi de boa qualidade, duas vagas na garagem…
De quebra, o condomínio fica próximo a um Walmart e a menos de dez minutos de carro da Disney World, tem diversos funcionários brasileiros e conta com ótima infraestrutura interna. Todos os hóspedes têm acesso a sala de recreação para crianças, quadras de tênis e vôlei de praia, academia, piscina e até um restaurante japonês.
Como se não bastasse, as diárias a partir de US$ 450 saíram mais em conta do que alugar quatro quartos em algum hotel (é raro achar algum razoável por menos de US$ 120) que, nem de longe, ofereceria a mesma comodidade.
Transporte
Outro ponto chave em Orlando, independentemente se você viaja com autistas ou não, é contar com um carro. O transporte público na cidade é pífio, e as principais atrações ficam distantes. Dá para recorrer a motoristas de aplicativos, mas na prática, sobretudo na saída dos parques, o processo tende a ser moroso.
Por isso, vale a pena reservar um veículo em alguma das diversas locadoras da região e retirá-lo já no aeroporto. Plataformas como a Mobility ajudam a comparar diversos preços de uma vez, o que poupa um bom tempo. Foi nela que encontrei uma SUV com sete lugares, que abrigou todo o grupo e, também, as malas. O carro era excelente, bem como o serviço prestado. Valeu muito a pena.
Quando ir
Na hora de planejar uma viagem com autistas para Orlando, é fundamental se programar bem em relação ao período da viagem. Afinal, a temperatura por lá costuma ser muito alta no meio do ano, quando é verão nos EUA.
“Meu principal conselho é ir em épocas que não sejam tão quentes. Neurodiversidade é um conceito muito amplo, mas pensando especificamente em autismo, o calor costuma ser muito prejudicial. Quando estive lá em março (primavera nos EUA), meu filho Theo se desregulou bastante por causa da alta temperatura. E sequer era verão. Tive que entrar em lojas com ar-condicionado para ele se regular”, afirma Andréa.
Caso consiga viajar apenas nas férias de meio de ano, considere visitar alguns parques aquáticos, como o Aquatica e o Volcano Bay. E leve tudo que puder para que todos do grupo se mantenham hidratados e refrescados na medida do possível.
Ingressos dos parques
É possível comprar ingressos individuais para cada parque ou em combos promocionais oferecidos pela Disney World, pela Universal Orlando ou pela United Parks & Resorts, o grupo do SeaWorld, nos quais o valor individual de cada centro de lazer diminui. Crianças menores de três anos não pagam ingresso.
Uma dica é reservar tudo com antecedência para viajar sem preocupações e montar um roteiro que seja previamente visualizado e adaptado a todos do grupo. Agências como a Just Travel, parceira do Rota de Férias. permitem a compra dos ingressos pela internet e com segurança.
Seguro viagem
Ao viajar para Orlando com autistas ou não, não deixe de fazer um seguro viagem. Afinal, os custos com saúde fora do Brasil costumam ser caríssimos e todos estão sujeitos a imprevistos. Isso sem contar problemas como extravio de bagagem e voos cancelados.
Minha sugestão é entrar no comparador online da Seguros Promo, que vasculha as principais seguradoras de viagem em busca dos melhores preços, sem que você precise ficar entrando no site de cada uma delas. É uma mão na roda, eu não viajo sem fazer isso.
O grande lance é que você economiza e ainda ganha um tempão na hora de fechar o seguro viagem. Depois de fazer sua escolha, use o cupom ROTADEFERIAS15 na caixa “Cupom de desconto” e ganhe 15% de desconto.
eSim e Chip de Internet
Confesso: não consigo viajar mais sem um eSim ou chip de internet. Ficar conectado é imprescindível por vários aspectos: comunicação, segurança e praticidade. Nunca se sabe quando você precisará falar com alguém, consultar algum endereço, resolver algum problema ou garantir alguma reserva.
Existem várias opções no mercado, mas o serviço que eu mais gosto é o chip de viagem da America Chip. Primeiro porque funciona bem na maioria dos lugares (em todo o mundo), e segundo porque o atendimento é ótimo. Eles têm até chips virtuais (eSim), o que facilita muito a vida na hora de instalar no telefone e usar. É realmente prático.
Não se esqueça de consultar os preços e contratar seu pacote antes de viajar. Negociei com eles, inclusive, um desconto de 10%. Basta usar o cupom ROTADEFERIAS para garantir o seu.
20 dicas essenciais para quem viaja com pessoas neurodivergentes Quando planejamos a viagem com o Bê, seguimos à risca as recomendações de diversos profissionais, sobretudo em relação à preparação para o avião. Ele, felizmente, voou muito bem de São Paulo para Orlando, mas é preciso estar preparado para crises.Aqui, seguem algumas dicas que adotamos não apenas na fase de antecipação, mas também quando estávamos nos parques. É crucial se preparar para tudo que pode acontecer por lá.
Orlando com autistas
Uma vez em Orlando, nos programamos para visitar o SeaWorld, o Aquatica, a Universal Studios, a Islands of Adventure (esses dois últimos na Universal Orlando), o Magic Kingdom, o Hollywood Studios (esses dois últimos na Disney World) e o Kennedy Space Center. Tudo isso em uma semana.
Parece loucura. E até certo ponto, é mesmo. É mais prudente evitar tantos parques seguidos, sobretudo com pessoas neurodivergentes. Mas foi isso que encaramos e, abaixo, conto como foi a experiência em cada centro de lazer.
SeaWorld
Links úteis – SeaWorld
Ao programar uma viagem para Orlando com autistas, provavelmente você escutará que o SeaWorld é um dos parques mais preparados para recebê-los. E pelo que eu pude conferir de perto, é mesmo.
O protocolo de acessibilidade do centro de lazer é amplo e pouco burocrático, inclui uma área certificada e oferece um bocado de benefícios. Para usufruir deles, assim que entrar no centro de lazer, vá ao Guest Relations (Centro de Visitantes) e pergunte pelo programa Ride Accessibility Program (RAP). Não é preciso apresentar qualquer tipo de laudo, mas o funcionário fará alguns questionamentos básicos em relação às condições do autista.
No caso do Bê, por ser criança, mediram a altura e entregaram aos pais um papel com todas as atrações que ele, acompanhado por até cinco pessoas, estaria apto a ir com acesso prioritário, via as filas rápidas chamadas por lá de Quick Queue.
Quando elas estivessem longas demais, com mais de meia hora, por exemplo, o funcionário anotava no papel o horário em que o grupo poderia voltar e brincar sem ter de esperar. Do contrário, a entrada na fila rápida era liberada instantaneamente (o que aconteceu na maioria dos casos) e bastava aguardar a vez.
Importante: nas atrações em que a pessoa neurodivergente não pode ir (por não ter altura mínima, por exemplo) ou não quer ir, os acompanhantes perdem o benefício. A proposta é sempre ajudá-la diretamente, o que parece justo.
Atrações
Fã de experiências que molham e de velocidade, o Bê se divertiu muito na Infinity Falls, um bote que encara correntezas e algumas quedas d’água (ele riu tanto que alegrou até um americano que foi ao lado), e na Penguin Trek, montanha-russa familiar que tem uma boa dose de radicalidade e termina em uma área gelada, onde dá para ver pinguins.
Nas montanhas-russas maiores, como a Manta, a Mako, a Ice Breaker e a Pipeline: The Surf Coaster, que imita ondas de surf e na qual todos vão em pé, ele não pode ir. Eu, porém, usei um passe Quick Queue para ir a todas elas e adorei.
Área certificada
Nada despertou mais a atenção do Bernardo no SeaWorld, porém, que a Sesame Street Land, área infantil com diversas atrações (incluindo uma pequena montanha-russa) e que recebeu do Conselho Internacional de Padrões de Credenciamento e Educação Continuada (IBCCES, sigla em inglês) a designação de Centro de Autismo Certificado (CAC).
Para isso, o espaço conta com equipes treinadas para interagir com as famílias e crianças que se enquadram no espectro autista, locais de baixo estímulo, guias sensoriais na entrada das atrações e uma sala de descompressão. Comumente chamada nos EUA de Quiet Room, esta última consiste em um espaço silencioso, com ar-condicionado e poucas informações visuais, para que as pessoas neurodivergentes possam descansar e se regular.
Aqui, eu conto mais detalhes a respeito da visita ao SeaWorld com autistas, incluindo o vizinho Aquatica, parque aquático que pertence ao mesmo grupo e que visitamos na sequência da vaigem.
Aquatica
Links úteis – Aquatica
O Aquatica é outro centro de lazer que proporcionou ótimos momentos ao Bê em Orlando. De fato, os parques aquáticos parecem funcionar muito bem para quem tem TEA.
O local, que também conta com Quiet Room, bem como toboáguas enormes, lazy rivers (piscinas com correntezas para boiar relaxadamente) e playgrounds molhados, é perfeito para quem deseja relaxar da bateção de perna dos parques convencionais e se refrescar no forte calor da Flórida.
Uma vez lá, foi preciso ir novamente ao Guest Relations, mas como todos já tinham sido inscritos no SeaWorld, o processo foi rápido. Mais uma vez, foi liberado ao Bê o acesso a filas rápidas, com a possibilidade de ele ser acompanhado por até cinco pessoas.
Para isso, foram distribuídas pulseirinhas: a dele era vermelha, e a dos demais, brancas (caso a pessoa tenha alguma sensibilidade ao acessório, é possível solicitar outras formas de identificação). Na hora de brincar, também era preciso que ele sempre estivesse junto.
Chamou atenção o fato de o parque contar com mapas que trazem informações sensoriais de todas as atrações. Além disso, na entrada de cada uma delas, os dados se repetem, com pontuações de estímulo atribuídas a cada sentido. Muito útil.
Atrações
As experiências que mais encantaram o Bê foram o brinquedão com balde d’água Walkabout Waters, um toboágua vermelho (a cor exerce forte influência nele) no espaço infantil Turi’s Kid Cove e a piscina de ondas.
Ele só ficou ansioso algumas vezes quando, nesta última, de tempos em tempos, a ondulação cessava e as águas represavam. Afinal, o que ele queria mesmo era bagunçar, pouco se importando com o fato de o parque, naquele dia, estar bem cheio.
Isso, porém, não vale para todo mundo. “Aconselho que os pais ou responsáveis alinhem as expectativas ao que a criança ou o adolescente “dá conta” naquele momento. Se ficam incomodados com lugares excessivamente lotados, é mais prudente evitá-los e aceitar isso do que enfrentar situações que possam ser desafiadoras. Viagens são para relaxar e se divertir. Logo, devem ser prazerosas para todos”, recomenda Letícia.
Universal Orlando
Links úteis – Universal Orlando
Dona dos parques temáticos Universal Studios e Islands of Adventure e do aquático Volcano Bay (além do Epic Universe, que será inaugurado em 2025), a Universal Orlando conta com políticas de acomodação de autistas que devem ser seguidas ainda no Brasil.
Isso porque, a partir de 30 dias antes da visita ao complexo, a pessoa neurodivergente ou responsável precisa entrar neste site e requerer o Cartão de Acessibilidade Individual (IAC, sigla em inglês) do IBCCES. Para isso, basta preencher o formulário com uma fotografia recente do titular, informações de contato e, em alguns casos, declaração médica (no caso do Bê, não foi solicitado laudo), além dos centros de lazer que visitará.
Já nos parques, você verá que a maioria das atrações têm duas filas: uma normal e outra chamada Express, que é mais rápida – e cujo acesso é vendido para os visitantes regulares. De posse do cartão do IBCCES, que é digital e pode ser salvo no celular, tudo que você precisa fazer é apresentá-lo ao funcionário, responsável por liberar o acesso ao titular e mais até três acompanhantes.
Importante: a pessoa neurodivergente tem que estar sempre junto e apta a brincar (tem que ter a altura mínima, por exemplo). Do contrário, todos perdem o benefício da fila rápida. Afinal, ele é voltado para ela.
Não é obrigatório, mas na primeira atração que o Bê foi, seu pai foi orientado a ir ao Guest Relations, apresentar a carteirinha do IBCCES e solicitar o Attractions Assistance Pass (AAP), que facilitaria a identificação por parte dos funcionários. Como a fila estava grande, porém, ele acabou deixando para lá.
Universal Studios
A Universal Studios, que conta com uma Quiet Room muito simpática bem na entrada, do lado esquerdo das catracas, tem ao menos duas áreas que divertem as crianças. A primeira é a Minion Land, palco de atrações como Illumination’s Villain-Con Minion Blast, na qual você deve usar uma arminha em cenários imersivos, e o simulador Despicable Me Minion Mayhem.
Depois de conferir ambas e ver alguns personagens de Meu Malvado Favorito, o Bê passou dias repetindo que queria ir aos “minions”. É preciso lidar com isso, mas no nosso caso, pelo menos, foi bem tranquilo.
O outro espaço que ele adorou foi a DreamWorks Land, recentemente inaugurada. O local conta com uma montanha-russa infantil inspirada nos Trolls, brinquedão, áreas de encontro com personagens, como Shrek, e uma vila com tema de Kung-Fu Panda, na qual há playgrounds molhados.
Foi fundamental passar um tempo por lá, porque o Bê estava começando a desregular por conta do calor e, quando se viu de sunga em meio aos splashes d’água, voltou a se divertir.
Isso foi suficiente para que ele ficasse tranquilo enquanto a Bela, sua irmã, passasse algumas horas “fazendo mágicas” com a varinha que comprou na área The Wizarding World of Harry Potter – Diagon Alley. Ela adorou o simulador do espaço, chamado Harry Potter and the Escape from Gringotts.
Islands of Adventure
Após algumas horas, a própria Bela convidou o Bê para pegar o trem Hogwarts Express (cujo acesso só é liberado para quem tem o ingresso Park-to-Park, que permite visitar dois parques no mesmo dia) rumo a Islands of Adventure, onde tem outro espaço dedicado a Harry Potter, o Hogsmeade. Isso sem contar experiências inspiradas em super-heróis da Marvel e dinossauros.
Achei que iríamos embora após o show The Nighttime Lights at Hogwarts Castle, que ilumina o castelo do Harry Potter à noite, mas que nada. Já era quase 22h quando cheguei com o Bê à área infantil Seuss Landing e ele quis ir a, pelo menos, mais três atrações. E só não rolou mais porque o parque fechou. Sucesso.
Aqui, eu conto mais detalhes sobre como visitar a Universal Orlando com autistas.
Disney World
Links úteis – Disney World
O protocolo da Disney World em relação à acessibilidade, chamado Disability Access Service (DAS), mudou em abril de 2024. Desde então, para fazer um pedido de acomodação de autistas, é preciso adotar os seguintes passos:
- Comprar os ingressos dos parques que pretende visitar.
- Registrá-los em sua conta no aplicativo My Disney Experience, disponível para iPhone e Android.
- Reunir todos os perfis de quem irá viajar contigo em uma mesma conta, criando um grupo de familiares e amigos (veja aqui como fazer isso).
- Até 30 dias antes da visita ao parque, entrar neste site, no qual o responsável terá de fazer uma videoconferência com um funcionário da Disney, que analisará a questão e informará os possíveis benefícios. A pessoa neurodivergente deve estar presente.
É válido ressaltar que a videoconferência é realizada apenas em inglês. Se não for o caso ou você se sentir mais confortável, a entrevista pode ser feita no dia da visita a qualquer um dos centros de lazer do complexo, nos Guest Relations.
Para conferir como funciona na prática, fui com o Bê, o pai e a mãe dele ao Centro de Visitantes do Magic Kingdom – que, por sinal, conta com um mapa em braile (fica no fundo da sala, à direita, próximo à saída) e oferece manuais sensoriais das atrações.
Como todos falavam inglês, a videoconferência foi realizada ali mesmo, sem problemas. Não foi solicitado laudo médico, mas levantaram questões sobre o tempo do diagnóstico e o comportamento em casa, na escola e em passeios. Perguntei à funcionária o que acontece com quem não domina o idioma, e ela disse que o atendimento, nesse caso, é feito de uma forma que facilite ao máximo a compreensão e identificação do caso.
Benefícios
Na atual política de acessibilidade da Disney World, a maioria das crianças e dos adolescentes neurodivergentes que viaja com dois responsáveis, como pai e mãe, é recomendada a ficar com um deles do lado de fora da atração enquanto o outro pega a fila normalmente. Aí, quando o primeiro sair, quem aguardou pode entrar e brinca sem espera.
Esse serviço se chama rider switch e pode ser solicitado diretamente aos funcionários que cuidam das filas por qualquer pessoa que tenha criança pequena. Mesmo sem necessidades especiais.
Com o Bê, porém, essa situação seria impraticável, Ele fica muito impaciente com a ausência prolongada do pai ou da mãe. Dessa forma, foi liberado para ele e até três acompanhantes o acesso a filas rápidas, chamadas por lá de Lighting Lanes e que podiam ser reservadas, ao longo do dia, na área DAS do aplicativo My Disney Experience. Este botão passa aparecer no menu dos três tracinhos, no canto inferior da tela, depois que a entrevista é feita.
Na prática, o sistema funciona muito bem. Basta agendar a atração no app, marcar quem irá acompanhar o titular (dá para indicar qualquer pessoa do grupo que esteja registrada no sistema, respeitando o limite de no máximo três por vez) e seguir, no horário apontado, para a fila rápida.
Depois de brincar, é possível escolher outra atração (ou a mesma), selecionar os acompanhantes (que podem ser os mesmos ou outros registrados no mesmo grupo familiar ou de amigos) e repetir o procedimento. E assim vai até o fim do dia.
Magic Kingdom
Com isso, deu para ir a todas as experiências que o Bê tinha acesso no Magic Kingdom, inclusive algumas das mais disputadas, como Seven Dwarfs Mine Train e Big Thunder Mountain Railroad.
O sistema só não incluía as atrações que estão funcionando com fila virtual, como TRON Lightcycle / Run e Tiana’s Bayou Adventure. Nessas, ele e o restante do grupo poderiam tentar a sorte como qualquer outro visitante, nas janelas das 7h e 13h – é preciso ser rápido, pois esgotam em segundos. Neste artigo, eu explico como fazer isso.
Aqui, vale dizer que, durante a parada Festival of Fantasy, que rola no meio da tarde, o Bernardo desregulou novamente. “Acho que foi por conta do calor e porque ele viu, em uma loja, um carrinho de corrida do Toy Story que o fissurou. Tive que sair e acalmá-lo, o que não foi fácil. Mas quem viaja com autistas deve estar preparado para alguns momentos de frustração”, afirma Heitor.
Depois disso, ele se concentrou na área Fantasyland, em atrações como Prince Charming Regal Carrousel e Dumbo the Flying Elephant. Isso sem contar, já de noite, o show de fogos Happily Ever After.
Hollywood Studios
No dia seguinte, no Hollywood Studios, tudo foi mais tranquilo. Como o registro no DAS já tinha sido feito e ele fica válido por alguns meses em todos os parques temáticos da Disney World, bastou fazer os agendamentos no app e aproveitar atrações como Slinky Dog Dash, Toy Story Mania, Mickey and Minnie’s Runaway Railway e até mesmo o simulador Star Wars: Rise of the Resistance, na área Star Wars: Galaxy’s Edge. Fiquei impressionado como o Bê amou esta última.
O auge, porém, foi o sonhado encontro com o Woody mencionado no início desta reportagem. Depois, sobrou tempo para ir a outras experiências fofas para crianças, como Lightning McQueen’s Racing Academy e Disney Junior – Live on Stage, além de encontrar personagens como Edna Moda, de Os Incríveis, Buzz Lightyear e, claro, Mickey e Minnie.
Aqui, eu falo mais sobre como visitar a Disney World com autistas.
Kennedy Space Center
Informações de Acessibilidade e Guias Sensoriais do Kennedy Space Center
A cerca de uma hora de Orlando, há dois complexos designados como Centro de Autismo Certificado pelo IBCCES: um é a Legoland Florida, em Winter Haeven, e o outro é o Kennedy Space Center, a área de visitantes da Agência Espacial Norte-Americana (NASA) em Cabo Canaveral, pertinho de Cocoa Beach. Como o Bê adora foguetes e astronautas, fui com ele e o restante do grupo a este último.
O local é, de fato, extremamente preparado para pessoas neurodivergentes e conta com diversas sinalizações sensoriais, inclusive no excelente Planet Play, um imenso playground com tema espacial.
Fora isso, abriga um jardim de foguetes (Rocket Garden) e diversas áreas com ar-condicionado, onde é possível ir a simuladores, entrar em cápsulas espaciais, conferir de perto o ônibus espacial Atlantis e o telescópio Hubble, acompanhar a trajetória da missão Apollo, ver plataformas de lançamento e até mesmo tocar em um pedaço da lua.
Vale a pena
Apesar de se encantar com tudo que viu, o Bê teve um dia difícil. Um de seus brinquedos quebrou durante a viagem de carro entre Orlando e Cabo Canaveral, logo cedo, e daí para frente ele desregulou.
“Nessas horas, externar situações como ‘podemos ir embora, filho, o que acha?’, ou ‘podemos beber água e dar uma volta para acalmar’, ou ainda ‘vamos ficar apenas mais um pouco e depois vamos embora’ podem ser úteis”, explica Letícia.
Foi o que o Heitor, a Milena e a Isabela fizeram, mesmo quando estavam esgotados. E bastava o olhinho do Bernardo brilhar diante de uma nova experiência, por mais que fosse um simples brinquedinho de foguete voando, para que tudo voltasse ao normal.
Com o Theo, segundo Andréa, não foi diferente. “É por isso que eu voltaria para lá, sem dúvida alguma. Ele se divertiu muito em Orlando, e é isso que importa”.
Heitor tem a mesma opinião. “As situações difíceis fazem parte e ocupam ao menos 10% da viagem, não dá para negar, muito menos achar que tudo funcionará como em um mundo de fantasia. Mas os outros 90% são de pura felicidade e compensam muito”.
Conclusão
Como tio, observando tudo isso de perto, posso dizer que jamais me esquecerei da cena do Bê brincando com o Woody, entre tantas outras memórias afetivas de experiências que encheram o coração dele, e o meu, de alegria. Isso sem contar todo o aprendizado adquirido, que certamente me transformou para melhor.
Quanto às dificuldades no meio do caminho… Quem não as tem?
O que você precisa saber antes de ir a Orlando
Ao planejar uma viagem para Orlando com autistas, vale a pena recorrer a uma série de ferramentas de auxílio antes mesmo de fazer as malas. Assim, é possível comprar passagens aéreas mais baratas, alugar carros e reservar hotéis, bem como passeios, transfers e ingressos para atrações, com mais segurança e pagando menos.
É imprescindível também fazer um seguro viagem e comprar um chip de internet. Assim, você evita os gastos absurdos cobrados com saúde no país, caso algo fuja do previsto, e consegue usar internet ou telefone para se comunicar com quem está no Brasil, checar e-mails, postar fotos no Instagram, usar o WhatsApp e tudo mais.
De quebra, vale a pena comprar um pouco de dinheiro do país que você visitará. Pode ser em espécie ou em cartão, mas não viaje sem nada.
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Já fez a reserva da passagem aérea?
Para não ficar perdendo tempo entrando em um monte de site de companhia aérea, uso a plataforma Vai de Promo na hora de comprar passagens. Gosto dela pelo fato de indicar as principais rotas disponíveis e listar, de forma automática, os melhores preços.
Onde ver preços: Vai de Promo
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Sabe onde ficará hospedado?
Uma boa dica para encontrar hotéis e consultar avaliações de quem já foi é usar o Booking.com. O site tem sempre boas ofertas e permite fazer reservas de forma prática e rápida. Eu indico, sobretudo, hotéis, pousadas e casas de aluguel que permitem pagamento apenas na chegada ao destino.
Onde ver preços e avaliações: Booking.com
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Já garantiu o seguro viagem?
Indico de longe a plataforma da Seguros Promo, um metabuscador que vasculha as principais seguradoras de viagem do Brasil em busca dos melhores preços, sem que você precise ficar entrando no site de cada uma delas. Assim, dá para economizar e ainda ganhar um tempão. Use o cupom abaixo para garantir descontos.
Onde consultar: Seguros Promo (cupom ROTADEFERIAS15 para 15% de desconto)
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Pediu o eSim ou chip viagem para usar internet ilimitada?
Jamais deixo de adquirir um eSim ou chip viagem internacional, que permite acesso à internet durante o passeio. O custo proporcional à viagem é superbaixo, e o serviço, ótimo. Testei várias opções e costumo usar os chips da America Chip, que tem ótimo atendimento e nunca me deixou na mão. Um dos destaques é que eles contam com planos de eSim, sem a necessidade de chip físico.
Onde pedir: America Chip (cupom ROTADEFERIAS para 10% de desconto)
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Vai alugar carro? Reserve com antecedência
Uma das escolhas mais difíceis na hora de viajar é identificar o meio de transporte que usará no destino. Se a ideia é alugar carro, a dica é sempre fazer reserva com antecedência. Sugiro o comparador online da Mobility que, com uma única pesquisa, exibe os melhores valores de locadoras confiáveis. Vale a pena.
Onde reservar: Mobility
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Precisa comprar dólar, euro ou outra moeda? Cote aqui
Nunca viajo sem ao menos um pouco de dinheiro do país para o qual estou indo, seja em espécie, seja em cartão. Minha dica para comprar moeda estrangeira é a Confidence, pois eles são uma das casas de câmbio mais respeitadas do mercado. Eu gosto muito do fato de eles fazerem delivery e entregarem tudo em casa, mas também dá para ir buscar nas lojas físicas. Tem várias disponíveis no Brasil.
Onde cotar: Confidence
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Reservou os ingressos dos parques?
Não tem nada mais frustrante do que viajar e não conseguir entrar numa atração por falta de reserva. Por isso, ao definir nossos roteiros, garanto tudo com antecedência. Existem ótimos serviços, como o da Just Travel, parceira do Rota de Férias que oferece ingressos com bons valores para todos os parques de Orlando.
Onde reservar: Just Travel
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