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Medo de viajar de avião: o que é e como enfrentá-lo
- Créditos/Foto:matt.hintsa on VisualHunt / CC BY-NC-ND
- 07/Março/2018
- Redação
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O medo de viajar de avião pode se manifestar em uma ansiedade leve ou mais intensa. Algumas pessoas conseguem controlá-lo; outras, convivem com ele. E isso não acontece apenas entre os anônimos – uma série de famosos também lidam com o transtorno, o que inviabiliza uma série de trabalhos.
Conversar a respeito e buscar por apoio emocional são atitudes que podem ajudar. Mas é preciso ir além.
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O irlandês Dennis Berkamp, ex-jogador de futebol com passagens por times como Ajax (Holanda) e Arsenal (Inglaterra), enfrentou o pavor de voar de avião durante toda a carreira. Quando foi contratado pelo time de Londres, deixou claro que viajaria apenas por terra. Isso chegou a lhe custar uma redução de 10% no contrato com o clube. E ele não se importou. Achou melhor ganhar menos do que voar frequentemente.
Medo de viajar de avião: o que as pessoas sentem?
No Brasil, a jornalista e apresentadora Fátima Bernardes também declarou ter medo de viajar pelos ares. A profissional já afirmou publicamente que ela, os filhos e o ex-marido William Bonner iam em aviões separados. O motivo é que, caso acontecesse algo com o casal, as crianças não ficariam órfãs.
Apesar de aterrorizar tantas pessoas, o avião ainda é o meio de transporte mais seguro do mundo. De acordo com a Aviation Safety Network (ASN), faz um bom tempo que não há acidentes aéreos fatais em voos comerciais brasileiros. O último ocorrido foi em 2007, com o A320 da TAM, que não conseguiu pousar na pista do aeroporto de Congonhas. A aeronave atravessou a avenida Washington Luiz, em São Paulo.
No mundo, a estimativa em acidentes de avião é de um em cada 1.2 milhão de voos.
Relatos
A assessora de imprensa Ana Davini trabalha com turismo. Para ela, o transporte aéreo é uma necessidade profissional, mas também um pavor. “Fiquei dois anos sem voar. É algo incontrolável, e não só psicológico. Tenho sintomas físicos, como suor nas mãos e tremores.”
Após o atentado de 11 de setembro às Torres Gêmeas, em Nova York, nos Estados Unidos, foi proibida a entrada e permanência de pessoas comuns na cabine de controle das aeronaves. Entretanto, durante uma das crises de medo de viajar de avião, Ana foi levada até o local para conversar com o comandante e entender um pouco do funcionamento do transporte.
“Houve um corte de luz durante o voo e entrei em pânico. Então, para me acalmar, a equipe a bordo me levou até a cabine e me explicou como o avião funciona, basicamente. Eu estudei sobre o assunto por conta também, na tentativa de racionalizar o medo”, afirma Ana.
A assessora conta que, durante o voo, ela fica totalmente alerta e consegue distinguir características que geralmente passam despercebidas por outros passageiros. “Fico muito atenta e consigo identificar se o piloto está, por exemplo, esperando para pousar, voando em círculos. Uma vez, o avião arremeteu e antes dele fazer isso eu percebi o que aconteceria, por conta da velocidade que estava no momento do pouso.”
Ana lembra que, certa vez em que estava indo a Londres, o avião fez uma parada para manutenção antes de levantar voo, o que a deixou em pânico. “Eu tinha certeza que o avião ia cair. Comecei a perguntar a respeito para a tripulação e eles perceberam que eu não estava bem. Precisei sair da aeronave e pegar um voo no dia seguinte.”
Essa atitude é algo não recomendado pela professora Angélica Capelari. Ela faz parte do corpo docente da Universidade Metodista de São Paulo e justifica a recomendação. “Isso pode reforçar ainda mais o medo da pessoa.” Ana relata, porém, que se não tivesse pego outro voo no dia seguinte, provavelmente nunca mais teria entrado em um avião.
Rennèe Ferreira é assistente administrativa e comenta que enfrenta problemas parecidos com os de Ana. “Tenho pavor de altura. Daí vem o medo de viajar de avião“. Renèe comenta que o sofrimento já começa desde o momento que compra o pacote de viagem.
O que pode ajudar?
Angélica afirma que o medo de viajar de avião está associados a situações que a pessoa não tem controle. Para ela, isso passa a ser um problema quando se deixa de usar o transporte aéreo. “Por exemplo, se eu prefiro ir de São Paulo até a Bahia de ônibus em vez de pegar um avião, mesmo sabendo que o aumento do período da viagem irá me prejudicar, há um problema aí a ser contornado.”
A professora comenta que conhecimentos técnicos não ajudam necessariamente. Saber como funciona a aeronave, por exemplo, pode contribuir para controlar o medo, mas não impede que ele apareça, uma vez que o sentimento é algo irracional.
Ana comenta que procurou por ajuda médica para enfrentar o o medo de viajar de avião. “Cheguei a tomar remédio e fiz terapia cognitiva comportamental.” Ela explica que o tratamento consistia em transportá-la para o momento do voo, mentalmente, para que aprendesse a controlar melhor o pavor.
Sobre tomar alguma medicação, Ana alerta nem sempre é a melhor saída. “Geralmente, as comissárias de bordo não recomendam, pois se houver algum problema durante o voo e você estiver dopada, não vai conseguir sair da aeronave. Hoje, eu tenho os meu mantras de que tudo vai ficar bem, para conseguir viajar.”
Renèe afirma que não se senta à janela de forma alguma e tenta não olhar pelo vidro enquanto está em voo. “Procurou me distrair lendo uma revista, por exemplo. Penso que tenho que enfrentar o medo, senão não viajo para lugar algum”, afirma
Uma das recomendações de Angélica é procurar por ajuda ao perceber a proporção que o pavor pode tomar na vida de alguém. “O medo de viajar de avião é uma fobia, que tem como reação um tipo de ansiedade. Sendo assim, técnicas de respiração para manter a calma podem ajudar também.”
Tripulação
Se você estiver dentro da aeronave e perceber alguém próximo com medo de viajar de avião, pode ser uma boa ajudá-la. “Tente acalmá-la, conversando ou até mesmo oferecendo contato físico, como segurar as mãos ou dar os braços. É importante reforçar que tudo vai acabar bem”, conta Ana.
Angélica alerta para não desacreditar ou desvalorizar o medo da pessoa. “Não diga frases como ‘ah, que besteira’. Converse com a pessoa como um amigo faria”, conclui.