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O zum-zum-zum em português nos voos de ida e volta desde Joanesburgo, na África do Sul, me surpreendeu: parece que os brasileiros, enfim, descobriram as Ilhas Maurício. A maioria deles, sem dúvida, casais em lua de mel rendidos pela beleza natural e pelo clima de exclusividade desse arquipélago fincado no Oceano Índico, entre a Ásia e a África.
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Maurício, a porção de terra principal e que empresta o nome ao país formado por diversas outras ilhotas, é o cume de uma montanha que se elevou do fundo do mar ao longo de milhões de anos, após sucessivas erupções vulcânicas, até dar vida a frondosas áreas verdes e praias banhadas por uma lagoa protegida por recifes que envolvem a ilha como uma barra de saia. Graças a esse “muro” de corais, ondas fortes não chegam às faixas de areia e há bem-vindas piscinas naturais com águas mornas, cristalinas e azuis por todos os lados.
Com os ventos que sopram forte por lá e favorecem os esportes aquáticos, a ilha batizada pelos holandeses em homenagem ao conquistador Maurício de Nassau se revela aos jetsetters como uma opção tão boa ou até mais interessante que Maldivas e Seychelles, desejados destinos tropicais nos arredores. Afinal, não se resume apenas ao belo litoral tomado por hotéis estrelados. Passeios de bike por estradas cênicas, mercados coloridos, vilarejos transados que remetem à costa da Califórnia (EUA), a urbanizada capital Port Louis e, sobretudo, uma impressionante miscelânea cultural fazem com que a experiência ali vá muito além dos muros dos resorts.
E olha que as opções de hospedagem não são fracas nas Ilhas Maurício. Bandeiras como a Beachcomber colecionam convidativos cinco estrelas na costa oeste, a mais bela da ilha, para quem busca mimos das mais variadas vertentes.
Há o Royal Palm, membro da Leading Hotels of the World, que tem um lindo spa; o Dinarobim, com villas em formato de meia-lua com bangalôs cercados por pequenas piscinas espalhadas de frente para a praia e aos pés do monte Le Morne, principal cartão-postal de Maurício e patrimônio mundial da Unesco; e o Troux aux Biches, dono de suítes enormes com jacuzzis envolvidas por um belíssimo jardim à beira-mar e restaurantes excelentes, inclusive um indiano e outro tailandês.
Colonizadas por portugueses, holandeses, franceses e ingleses ao longo dos séculos, as Ilhas Maurício souberam abraçar as diferenças étnicas e religiosas para criar uma cultura singular e pacífica. Não demorou a que chegassem muçulmanos e, principalmente, hindus, que hoje representam 70% da população.
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UMA VIAGEM DOS SONHOS NA FASCINANTE POLINÉSIA FRANCESA
Os anos se passaram e, naquele pedacinho de mundo, todo mundo resolveu conviver numa boa, respeitando o espaço do outro. Assim, templos, igrejas e mesquitas repousam lado a lado e, nas ruas, ninguém se preocupa com a cor, roupa ou estilo de quem está do lado.
Não há sequer uma imposição de língua, já que o idioma oficial é o inglês, mas todo mundo fala francês ou sua variação, o creole. Para completar a harmonia, a segurança desponta como outro ponto positivo da ilha, que também chama a atenção por abrigar vias bem pavimentadas e limpas, todas elas funcionando com mão invertida de trânsito, como na Inglaterra. Ao rodar pelas estradas é fácil avistar campos de chá e, principalmente, da cana de açúcar, de onde saem alguns dos rótulos de rum mais apreciados do mundo.
É para o mar que a maioria das pessoas vai quando o objetivo é dar uma escapada do hotel. Os mais esporsitas procuram locais como o One Eye, o segundo melhor point do mundo para praticar kitesurfe, atrás apenas do Havaí. Os menos radicais, por sua vez, contratam agências como a Mautourco, que inclusive tem guia que fala português, e seguem para La Prairie, no sudeste da ilha, de onde, todas as manhãs, partem passeios para observar golfinhos.
À primeira vista, o tour soa perfeito: trata-se de um mergulho com snorkel em uma área natural, onde os mamíferos se alimentam nas primeiras horas do dia, e não em um tanque, como em Orlando (EUA) ou Cancún (México). Ocorre, porém, que muitos barcos chegam lá ao mesmo tempo, o que rouba um pouco a emoção da experiência.
É preciso nadar rápido para acompanhar os golfinhos, que passam como foguetes no fundo do mar. Mesmo com a muvuca, a sensação é maravilhosa nos trechos com boa visibilidade, e mesmo quem fica no barco consegue ver de pertinho os bichinhos saltando, o que arranca muitos “ohhhs”.
Vale a pena emendar o mergulho com uma vista às Crystal Rocks, formações vulcânicas que parecem brotar sobre as águas translúcidas de Maurício como naus à deriva. É um cenário lindo, que não lembro ter visto em outro lugar do mundo. Pode preparar os smartphones e câmeras, pois rende ótimas fotografias.
Outro passeio típico é o que segue para a região de Chamarel, também no sudeste de Maurício. É lá que fica a base da ElectroBike Discovery, agência que promove tours guiados de bike assistida pelos arredores. Há roteiros de meio-dia ou dia inteiro, no qual você almoça em um restaurante com mirante do qual se observa a Le Morne e outras montanhas cobertas de verde se debruçando em direção ao Índico.
Ali dá para provar o café mauriciano, do tipo arábica, com sabor um tanto quanto ferroso, antes de assistir a uma breve aula sobre como usar as bicicletas elétricas. Mesmo eu, que nunca havia pedalado um modelo do tipo, peguei o jeito na hora, já que tudo que você precisa fazer é pressionar botões para cima ou para baixo no guidão caso queira recorrer à assistência.
E assim segui com um grupo pelas estradas que serpenteiam o Parque Nacional Gargantas do Rio Negro, quase sempre serra abaixo. O trajeto total tinha 25 km, com diversas pequenas subidas em que o impulso elétrico da bike soou como uma benção e pit stops em alguns dos lugares mais lindos da ilha. O primeiro se deu na Cachoeira de Chamarel, com 100 metros de altura (pouco maior que a Estátua da Liberdade, reforçou o guia). Linda, ela despenca em um cânion que pode ser observado de dois mirantes.
Mais um pouco de pedal e se alcança a Terra das Sete Cores, uma inusitada formação geográfica em que a mistura de diversos sedimentos vulcânicos gerou uma colina com pequenos relevos de areia com tons marrom, vermelho, roxo, azul, verde, amarelo e laranja. É um lugar lindo, onde também se pode ver de pertinho algumas tartarugas gigantes trazidas da vizinha Seychelles.
De volta a bike, era hora de pedalar pelo trecho costeiro da via B9 na altura de Baie du Cap, onde a pista faz uma espécie de “U” às margens do oceano e cuja paisagem é tão linda que muitas listas da internet a classificam entre as 10 estradas mais cênicas do mundo. Vale a pena subir no pequeno monte ao lado para observar do alto aquela maravilha antes de seguir pedalando às margens da La Praire, praia da qual é possível observar a galera praticando kitesurfe.
Há ainda outros passeios interessantes para fazer nas Ilhas Maurício, como visitar a Ile aux Cerfs, na costa leste, com faixas de areia espetaculares; a capital Port Louis, que tem um grande e colorido mercado, templos, um calçadão à beira-mar e edificações modernas, como o aeroporto internacional; e Grand Baie, ao norte de Maurício, onde uma rua repleta de lojinhas atraentes desponta num visual que lembra Santa Monica, na Califórnia.
A Grand Baie abriga ainda uma das praias mais lindas de Maurício. Os europeus que o digam, pois costumam passar 10 ou mais dias na ilha a fim de ter tempo livre para praticar esqui aquático, stand up paddle, windsurfe e outras atividades náuticas oferecidas gratuitamente pelos melhores resorts.
Obs: Trecho de texto adaptado de original publicado na revista Viaje Mais Luxo, da Editora Europa.