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Como é dirigir na mão inglesa – Roteiro na Escócia
- Créditos/Foto:Paulo Basso Jr.
- 04/Janeiro/2024
- Paulo Basso Jr.
Depois de passar dias muito agradáveis em Edimburgo, a capital da Escócia, cujas principais atrações eu postei aqui, chegou a hora de explorar um roteiro na Escócia partindo da capital e passando por lindas regiões do país, a exemplo de Loch Lomond e Kingdom of Fife. Mas para isso, tive que aprender como é dirigir na mão inglesa.
Afinal, optei por alugar um carro na plataforma da Mobility, que lista diversas locadoras ao mesmo tempo, e o retirei no aeroporto de Edimburgo, com reserva prévia feita pela internet.
Daria para fazer parte deste roteiro de trem, também, mas eu queria ter liberdade para parar quando e onde eu quisesse. Afinal, eu sabia que teria muitas paisagens incríveis pela frente. E tinha razão.
Como é dirigir na mão inglesa
Posso dizer que foi um grande barato dirigir na mão inglesa pelas estradas da Escócia. Vou deixar todas as dicas aqui para quem deseja viver essa experiência, desde a retirada do carro até a adaptação e a devolução, tudo explicado passo a passo. Acompanhe.
Retirada do carro
Como estava sozinho e com pouca bagagem, escolhi um modelo compacto. No site da Mobility, fui informado que receberia um Kia Ceed ou similar. Optei pela versão com câmbio automático, pois sabia que isso facilitaria bastante a minha vida na hora de conduzir na mão inglesa.
Uma vez na locadora, já em Edimburgo, o atendente informou que eu teria à disposição um Volvo V40 prata completo, com menos de 1.000 km rodados.
Satisfeito, fechei com ele um modelo de seguro (optei pelo CDW, com cobertura para perda e danos decorrentes de acidentes, além de terceiros), fui informado que o veículo era abastecido a gasolina e confirmei que o devolveria com tanque cheio (do contrário, teria que pagar a taxa de combustível cobrada pela locadora, que, em geral, é mais cara do que nos postos).
Com o contrato assinado, ele indicou o número da vaga em que o carro estava estacionado e me orientou checar se o V40 tinha alguma avaria – caso positivo, teria que avisar algum funcionário.
Fiz isso com calma e também procurei entender como lidar com o compartimento de abastecimento, antes mesmo de sair do estacionamento. Afinal, sabia que teria de encher o tanque sozinho e não queria passar vergonha ou perder tempo no posto.
Depois da checagem, coloquei minha bagagem – uma mala média e uma mochila – no porta-malas do Volvo. Arrumei então os retrovisores, ajeitei o banco com os botões elétricos (confesso que apanhei um pouco para colocá-lo para trás) e procurei me familiarizar com os principais comandos do carro.
Afinal, queria estar sossegado para voltar as atenções à condução propriamente dita, já que nunca tinha dirigido na mão inglesa. E, também, às paisagens do lado de fora, uma vez que fazer um roteiro na Escócia explorando os arredores de Edimburgo era um dos meus sonhos.
Condução na mão inglesa
Confortável, o V40 tinha banco de couro e todos os comandos à mão. Senti falta apenas de uma entrada de conexão USB, já que rodaria muito com o Waze ligado e queria recarregar a bateria enquanto isso. Daí para frente, começou a brincadeira para valer. Instintivamente tentei puxar o cinto do lado esquerdo, mas lá estava ele à direita. Dei a partida ao apertar o botão (a chave deve ser encaixada em um pequeno compartimento abaixo dele) e segui em frente.
No início, como já imaginava, estranhei um pouco a condução na mão inglesa. Mas segui as regras básicas para se dar bem nessa situação: manter-se na faixa da esquerda, estar sempre do lado em que o motorista fique mais próximo ao centro da pista nas vias de mão dupla e evitar movimentos bruscos. É bom prestar a atenção no GPS, nas placas e no fluxo do trânsito para conduzir com segurança.
Não demorou, porém, para eu fazer uma curva para a esquerda e encostar o pneu numa guia. Ali, percebi que minha noção espacial do carro estava em fase de adaptação. A cabeça funciona no automático e demora a perceber que tem um carro inteiro à sua esquerda na hora de fazer as manobras.
Nas estradas da Escócia
Quando eu cheguei à estrada, rumo aos arredores de Edimburgo, tudo ficou mais simples. Bastava lembrar-se de se manter à esquerda o tempo todo, sobretudo na hora de entrar nas rotatórias, já que elas são muito usadas na Escócia – principalmente nos cruzamentos de rodovias.
O automóvel se comportou bem, e logo me senti seguro para fazer ultrapassagens à direita – os europeus, em geral, só usam a faixa rápida para isso e, na maior parte do tempo, rodam na faixa lenta, sempre próximo ao limite da velocidade da pista. Nas vias principais, era permitido acelerar até 65 mph (cerca de 105 km/h).Com respostas rápidas, o Volvo se mostrou amigável e ergonômico. Botões no volante permitiam o controle fácil do rádio. Setas, limpador de para-brisa e pedais estão na mesma posição que os carros brasileiros, o que facilita a adaptação.
Apenas o câmbio se mantém no console central, mas como ele era automático, não precisei fazer trocas de marcha com a mão esquerda, o que imagino ser um tanto quanto estranho.
O que fazer nos arredores de Edimburgo
Meu primeiro destino nos arredores de Edimburgo eram os Parques Nacionais Loch Lomond e The Trossachs. Aproveitei que era hora do almoço, no entanto, para devisar rapidamente do caminho e visitar Stirling, onde há um lindo castelo e histórias ligadas a William Wallace, cavaleiro escocês imortalizado por Mel Gibson no filme “Coração Valente”.
De volta à estrada, encontrei pistas estreitas e de mão-dupla. Por duas ou três vezes, quando um ônibus ou caminhão vinha na faixa contrária, instintivamente joguei o carro mais do que devia para a esquerda, comendo a faixa lateral. Tudo pela falta ainda da noção espacial correta do veículo.
Em seguida, acessei uma via em que só passava um carro, com destino ao belíssimo hotel-fazenda Monachyle Mhor. Quando tive que encostar para dar passagem para um automóvel que vinha na direção oposta, o fiz pela direita, e não pela esquerda, como devia, causando estranheza no outro condutor.
De resto, porém, tudo correu normalmente e eu ainda pude parar por diversas vezes para fazer fotos dessa linda região da Escócia.
Loch Lomond
No dia seguinte, rodei por cerca de 100 km pela região e visitei locais como o shopping Lock Lomond Stores, à beira do lago que o batiza, e a Glengoyne, uma das destilarias de uísque mais famosas da Escócia. E aí vi uma das poucas desvantagens de estar ao volante: não pude participar da degustação.
Kingdom of Fife
Depois de mais um pernoite pela área, segui para a região de Kingdom of Fife, onde conheci Falkland, com um lindo palácio, que serviu de cenário para a série “Outlander”, o parque Balbirnie e o espetacular hotel de golfe Gleneagles, que ostenta um Rolls-Royce verde na porta.
Anstruther e St. Andrews
Nesta viagem de carro pela Escócia, também visitei cidades como Anstruther, onde é servido o melhor fish and chips (peixe com batata-frita) do Reino Unido, no Anstruther Fish Bar, e St. Andrews, palco de ruínas maravilhosas de castelos e igrejas. Foi nesta última, inclusive, que o príncipe William conheceu Kate Middleton, quando ambos estudavam na prestigiada universidade local.
O caminho por essas bandas é belíssimo. A cada curva aparece uma paisagem mais impressionante, sempre com colinas e campos verdejantes, flores do tipo dente de leão e muitas ovelhas.
Pena que não há muitos pontos de parada nas estradas, pois dá vontade de fazer fotos o tempo todo. De qualquer forma, aproveitei um mirante aqui e ali para estacionar e curtir o visual.
Abastecimento do carro
Com cerca de 350 km rodados, o tanque de combustível do V40, que tem capacidade para 62 litros, chegou à metade. Resolvi abastecer.
Para isso, procurei no Waze um posto no meio do caminho e, uma vez nele, parei ao lado de uma bomba vazia. Como o compartimento de combustível ficava próximo à porta do motorista, e a mangueira estava no oposto, tive que manobrar o carro. Ela não alcançava o outro lado.
Uma vez com o veículo na posição correta, o processo para colocar gasolina não poderia ser mais simples. Abri a portinha da entrada do combustível, inseri a mangueira com a descrição Unleaded (a outra era Diesel) e apertei o gatilho.
Quando o tanque encheu, o abastecimento se encerrou sozinho. Fui então à loja de conveniência do posto, informei o número da bomba, paguei o valor devido com o cartão de crédito e pronto, segui em frente.
Estacionamento nas cidades pequenas
Durante minha passagem pelas cidades pequenas de Kingdom of Fife, tive que deixar o V40 em estacionamentos públicos e também em algumas ruas normais.
A baliza para o lado direito, do motorista, é simples, mas do lado esquerdo requer um pouco mais de cuidado. De qualquer forma, nessa altura já estava mais acostumado ao carro, então não tive problemas.
Já nos estacionamentos públicos da Escócia é importante checar se há cobrança, a fim de evitar multas. Nesse caso, é preciso ir à máquina, definir o tempo em que ficará estacionado e pagar com moedas (de preferência o valor correto, pois nem sempre vem troco) ou via um aplicativo indicado no próprio equipamento.
Alguns parquímetros aceitam cartão, mas é a minoria. No fim do processo, um recibo é emitido, e você deve deixá-lo dentro do carro, em cima do painel, de modo que os fiscais o localizem facilmente.
Devolução do carro na locadora
No último dia de viagem ainda visitei a cidade de Dundee, uma das mais cosmopolitas da Escócia, antes de retornar a Edimburgo, de onde partiria meu voo para São Paulo, com conexão em Londres. A estrada era ótima, bem pavimentada, então deu para acelerar o carro com tranquilidade e curtir o visual.
Localizei no Waze um posto próximo ao aeroporto e, uma vez lá, abasteci o V40 novamente. Mais meio tanque, que custou em torno de 30 libras.
Dali para a região em que as locadoras de carros ficam foi um pulo, embora não haja boa sinalização. Algumas rotatórias depois, cheguei ao meu destino, deixei o carro, que foi rapidamente fiscalizado, apanhei o recibo, peguei minha bagagem e segui a pé para o setor de embarque do aeroporto de Edimburgo.
Já com saudades da viagem de carro pela Escócia, deixe para trás o Sir. V, apelido que dei ao V40, meu companheiro de passeio, mas voltei para casa com ótimas lembranças e a certeza de que dirigir na mão inglesa é, sim, algo bem divertido.
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