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Saiba o que visitar nos arredores de Praga
- Créditos/Foto:Divulgação
- 31/Agosto/2017
- Paulo Basso Jr.
Quase todos os brasileiros que vão à República Checa atem-se exclusivamente a Praga, o que nem sempre é a melhor decisão a ser tomada. Não que a capital do país seja um lugar que, por si só, não ofereça experiências completas, muito pelo contrário, mas o fato é que, a partir dela, é possível fazer viagens de um dia com ou sem pernoite rumo a cidades históricas cujo charme só a região central da Europa é capaz de oferecer. Quem estica o passeio a destinos como Karlovy Vary, por exemplo, tem a oportunidade ímpar de vislumbrar paisagens pitorescas que a maioria dos olhos só está acostumada a ver no cinema.
De tão linda, a cidade serviu de cenário para o filme 007 – Cassino Royale. Situada a 140 km a oeste de Praga, às margens do Rio Tepla, a região gaba-se de ser uma das mais famosas cidades termais da Europa. Por isso, além de James Bond, já recebeu diversas personalidades famosas, como Goethe, Beethoven, Pedro o Grande e Marx, todos em busca dos tratamentos milagrosos oferecidos pelas fontes de águas quentíssimas (chegam a ter 72 graus) que brotam por lá. Isso sem falar nos diversos cineastas consagrados que, desde 1948, vão à região assistir ao Mattoni, um dos mais renomados festivais da sétima arte no continente, que já premiou os brasileiros Glauber Rocha e Andrucha Waddington.
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Curiosamente, o festival é realizado em um dos poucos prédios levantados na cidade à época do comunismo, o Hotel Thermal – onde, por sinal, qualquer turista pode mergulhar gratuitamente em uma piscina de águas quentes. Em torno dele, Karlovy Vary contempla magníficas construções do século 19 que, uma ao lado da outra, se descortinam pela paisagem mesclando, como se não fosse nada demais, estilos como art nouveau, art decò, clássico e barroco. O conjunto visual reflete uma identidade única ao lugar que, de quebra, fica inserido em uma belíssima região montanhosa cercada por encostas arborizadas.
Licor e pirulitos
Na hora de ver tudo isso de perto, uma boa dica é começar o passeio pela fábrica de licor Becherovka, bebida a base de 34 ervas muito famosa na República Checa por ter uma fórmula familiar secreta. Realizada em um prédio antigo, a produção tem um ambiente tão limpo e agradável que muitas vezes faz o visitante se esquecer que está em uma fábrica. No final, ninguém resiste a comprar uma (ou mais) garrafa verde do licor vendido na lojinha.
Com a sacola na mão, vale a pena caminhar até o Balneário 5, prédio que praticamente divide a parte mais antiga da cidade da mais desenvolvida. O Balneário 5 é um dos seis gigantescos complexos termais de Karlovy Vary que, durante muitos anos, abrigaram monarcas, militares e hóspedes ilustres em busca de efeitos curativos sobre o sistema nervoso, a circulação sanguínea e as glândulas de secreção interna. Hoje, poucos deles estão abertos, mas há uma série de outros spas luxuosos na região que oferecem não só tratamentos terapêuticos, mas também de relaxamento. Para quem deseja – e pode – se sentir como um verdadeiro nobre, eis aí uma oportunidade de ouro.
Para a maioria dos mortais, porém, o roteiro segue por um calçadão repleto de lojinhas, grande parte delas pertencente a russos. Aliás, conterrâneos do Gorbachev não faltam por lá. Comerciantes, turistas e imigrantes dominam a cidade de tal forma que diversas placas estão escritas em russo. Há até uma rua repleta de palacetes antigos que ou se transformaram em hotéis ou em “singelas casinhas” de férias dos novos milionários do país, sobretudo petroleiros, que fizeram fortuna após a queda do comunismo.
O melhor exemplo da influencia da comunidade russa em Karlovy Vary é a fantástica Igreja de São Pedro e São Paulo. Construído no século 19, o prédio tem arquitetura típica ortodoxa, com direito àquelas torres com cúpulas redondas que parecem pirulitos e tudo mais. É permitido visitar o interior do templo, que se destaca pelas belíssimas pinturas, pelo altar em madeira nobre e por um gigantesco lustre de cristal.
Em busca do gêiser
Nada chama mais atenção na cidade, porém, que as gigantescas colunatas que interligam os balneários. Construídas para proteger os hóspedes que saem das termas, tratam-se de enormes corredores cobertos e repletos de colunas de ferro, arenito ou calcário (o maior deles, perto do Balneário 3, tem 124 colunas). Todo mundo pode conhecê-las, já que são nessas estruturas que estão espalhadas as 15 fontes de águas termais de Karlovy Vary, todas com temperaturas diferentes.
A principal fonte, de número 1, fica bem ao centro da cidade e teria sido descoberta pelo imperador Carlos IV no século 14. Reza a lenda que o nobre andava pela região durante uma caçada quando colocou na água uma de suas pernas, àquela altura machucada, e se curou. A partir daí, Carlos IV fundou Karlovy Vary (que significa Fervedor de Carlos), propagou sua fama entre os súditos e a transformou em uma das cidades mais ricas da Europa Central.
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Hoje, a fonte número 1, batizada de Vridlo, é um gêiser que lança jatos d’água a 17 metros de altura. Detalhe: a 72 graus. Para que os visitantes provem o “líquido milagroso”, há fontes secundárias em que a água é resfriada e chega a menos de 30 graus. O gosto é para lá de duvidoso, mas, uma vez lá, ninguém resiste a comprar uma canequinha de porcelana, souvenir mais típico da região e vendido por todos os lados, para pegar um pouco de água e experimentá-la. Mal não faz, garantem os guias.
Melhor que isso, porém, é ir a qualquer barraquinha e peça por uma oplatka. Trata-se de uma massa seca com formato semelhante ao de uma grande hóstia com diversos sabores doces, como nozes e chocolate. Pode ter certeza de que elas são bem mais saborosas que as águas termais que jorram pelas fontes.
Trecho de matéria original publicada na Edição Especial República Checa e Alemanha, da Viaje Mais.