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Conheça a Ponte Carlos e o relógio astronômico de Praga
- Créditos/Foto:Divulgação
- 20/Agosto/2017
- Paulo Basso Jr.
A Ponte Carlos, que tanto aparece nos cartões-postais de Praga cortando o Rio Moldávia ao mesmo tempo em que é vigiada pelo castelo no topo da colina, é o coração da capital da República Checa. Há inclusive quem a considere, e com razão, a ponte mais bela do mundo.
Construída em 1357 a mando de Carlos IV, o mais célebre governante local, a ponte foi a única a permitir a travessia sobre o rio até 1741. Na época em que Praga era a capital do Sacro Império Romano-Germânico, a estrutura fazia parte do caminho real e, por isso, é bem larga, feita na medida para que até quatro carruagens passassem por ela lado a lado.
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Hoje, apenas pedestres têm a honra de atravessá-la. No inverno, quase sempre sob o clima sinistro (ou seria melhor kafkiano?) imposto pelas sombras das 30 estátuas de santos que a ornamentam – há uma 31ª na parte inferior do lado de Malá Strana – e das duas torres que guardam suas extremidades. No verão, por sua vez, tudo se transforma.
A ponte ganha um ar jovial realçado pelos artistas que vendem quadros e artesanato enquanto namorados se beijam nos parapeitos e turistas fazem fila para encostar no ponto em que, no século 14, São João Nepomuceno se agarrou antes de ser atirado para morrer no rio. Explica-se: o santo é tido como milagreiro e atende aos mais variados pedidos, inclusive à certeza de que um dia se retornará a Praga. Mais uma lenda para você anotar em seu caderninho.
É em meio a essas deliciosas histórias que se alcança o coração da capital checa, mais conhecido como Cidade Velha (Staré Město). Trata-se do bairro mais turístico da região, repleto de lojas, restaurantes, teatros, casas noturnas e tavernas que se espalham entre a Staroměstské Náměstí (Praça da Cidade Velha) e a Ponte Carlos. Lá, o grande barato é se perder pelas ruas medievais – muitas delas do século 11 –, onde comerciantes vendem suvenires, cristais e matrioskas, as famosas bonequinhas russas que sobrevivem ao tempo em que o comunismo imperava por lá.
Uma simples volta pelo bairro vale por anos de estudos de história ou artes. Quer ver construções góticas, por exemplo? Vá à Igreja Nossa Senhora Diante de Týn, disputada por católicos e protestantes, ou ao Portão da Pólvora, uma das 13 entradas da Cidade Velha, erguida pelos idos de 1200 para proteger os mercados feudais. Gosta de art-noveau? Olhe para o lado e veja a Casa Municipal, onde hoje funciona uma sala de concertos e um restaurante luxuoso. Barroco? Ande pelo Klementinum, antiga base jesuíta e atual sede da Biblioteca Nacional. Ah, seu negócio é o neoclássico? Expie então a fachada do Teatro da Nobreza, onde Mozart, fã declarado de Praga, estreou a ópera Don Giovanni em outubro de 1787.
Agora, se a ideia é ver todos esses estilos reunidos, junte-se aos turistas que, invariavelmente, ficam embasbacados diante da belíssima Praça da Cidade Velha (seria a praça mais bonita do mundo?). Nesse pequeno espaço, casas românicas e góticas, como a do Unicórnio Dourado, onde Kafka frequentava um grupo literário, disputam espaço com igrejas, cafés com mesinhas espalhadas pelo calçadão, palácios rococós e a incrível prefeitura com sua torre de 1364.
É em frente a esse prédio de fachada gótica e renascentista que, nas horas cheias, pessoas de todas as partes do mundo se aglomeram para ver um espetáculo que dura menos de dez segundos: a procissão dos 12 apóstolos que ocorre sobre o famoso relógio astronômico de Praga. O artefato, como não poderia deixar de ser, também conta com uma lenda. Ele foi feito no início do século 15 pelo relojoeiro-mestre Hanuš e ficou tão perfeito que os conselheiros da cidade, temendo que o profissional recriasse sua obra-prima em outro lugar, teriam-no cegado.
Até Hitler se rendeu
Lendas à parte, Praga tem muitas histórias sérias, como a do Bairro Judeu (Josefov), que fica ao lado da Cidade Velha. Oprimidos pelas leis, os judeus praguenses foram explorados desde o século 12 até se verem isolados, anos depois, em um gueto. Massacrados, tiveram de sobreviver a duras penas em uma pequena região onde, no fim do século 18, mais de 40 mil pessoas praticamente se aglomeravam pelas ruas e formavam uma espécie de favela. Nesse período, o rei José II combateu a discriminação e, por isso, o bairro passou a se chamar Josefov.
Ainda assim, um século depois, o lugar foi quase que completamente demolido, pois a falta de saneamento básico que reinava desde os tempos passados ameaçava a saúde pública. Apenas algumas estruturas foram poupadas, como cinco sinagogas e o Velho Cemitério Judaico, o mais bem preservado da Europa.
Hoje, é possível visitar tudo isso. As sinagogas se transformaram em museus e guardam milhares de peças históricas, já que Hitler foi convencido a manter em Praga os únicos elementos da cultura judaica que ele não destruiria em todo o mundo. A ideia de seus seguidores era a de que, no futuro, o führer usasse a cidade para provar que tinha exterminado o povo por ele considerado menor. Felizmente, como todos sabem, Hitler teve seus planos malogrados e a capital checa permaneceu praticamente intacta, embora os judeus que lá viveram durante a Segunda Guerra não tenham tido a mesma sorte: quase todos foram encaminhados para campos de concentração e nunca mais voltaram.
O mais incrível é que, em contraste com todas as tragédias que o marcam, o Bairro Judeu é, hoje, um dos mais ricos e belos de Praga. A Avenida de Paris, que o corta, tem o metro quadrado mais caro da cidade e concentra lojas de grifes famosas, tal como a cidade que a batiza. É lá também que ficam o belíssimo Rudolfinum, sede barroca da Orquestra Filarmônica de Praga, e diversos restaurantes nobres, como o Café Kafka, bem pertinho da casa onde o escritor nasceu.
Além desses lugares, o passeio pela região deve incluir ao menos três sinagogas: a Staronová, ou Velha-Nova, erguida em estilo gótico em 1270 e que tem esse nome porque foi chamada de Nova até a construção de uma outra, destruída nos anos seguintes – sim, a velha é que sobreviveu ao tempo –; a Espanhola, lindíssima, com decoração moura; e a Pinkas, em cujas paredes estão os nomes de todos os judeus checos mortos no holocausto e que dá acesso ao impressionante Cemitério Judaico.
Finalmente, a revolução
O último (ou primeiro, como preferir) destino imperdível de Praga é a Cidade Nova (Nové Město), que, apesar do nome, é bem mais velha que o Brasil. Assim como a ponte mais famosa da região, foi fundada por Carlos IV em 1348 para dar ao lugar um status de cidade imperial. Hoje, concentra diversas lojas – quase todas controladas pelos russos –, um imenso calçadão que a liga à Cidade Velha, além de restaurantes e bares, casas noturnas, cinemas, cabarés e hotéis para todos os gostos e bolsos.
É nesse pedaço que ficam os três maiores prédios neo-renascentistas de Praga, a Ópera Estatal, o Museu Nacional e o Teatro Nacional, este último magnífico e com uma cúpula de vidro moderna. Aliás, essa é uma das poucas estruturas contemporâneas da cidade ao lado da Casa Dançante, desenhada pelo arquiteto Vlado Milunić em cooperação com o canadense Frank Gehry (o mesmo que fez o Museu Guggenheim, em Bilbao).
Como se não bastasse, a Cidade Nova conta com três praças históricas que, antigamente, serviram como grandes mercados. A maior delas, chamada Venceslau, nem parece uma praça, mas sim uma grande avenida cerrada por um jardim. Foi lá que, em novembro de 1989, uma manifestação pacifista contra a repressão policial desencadeou a Revolução de Veludo. Dessa forma, bem ao estilo de Praga, o comunismo caiu sem maiores contratempos e a Paris do Leste, a Cidade das Cem Torres, voltou a se mostrar reluzente nas revistas de turismo de todo o mundo. Mas nunca de maneira tão especial e inesquecível como quando se a conhece pessoalmente.
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Parte 4: Onde tomar cerveja e curtir a noite de Praga
Obs: Trecho de matéria original publicada na Edição Especial República Checa e Alemanha, da Viaje Mais.