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Roteiro de luxo em Edimburgo inclui suíte de Harry Potter
- Créditos/Foto:Paulo Basso Jr.
- 22/Junho/2019
- Paulo Basso Jr.
O tilintar da única pedra de gelo no copo de uísque soou como uma espécie de boas-vindas à Escócia. No Bar Scotch do famoso Balmoral, um dos hotéis mais sofisticados de Edimburgo, eu degustava um single malt da região de Speyside enquanto aguardava o quarto ficar pronto.
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Não tinha pressa, pois o ambiente era convidativo e elegante, com belas prateleiras envidraçadas de garrafas, mobiliário de madeira escura e sofás com estofados de tecido tartã, o célebre padrão xadrez indelével do país britânico. Além disso, minha reserva não era para uma acomodação qualquer, mas para a J. K. Rowling Suite, a mais desejada do hotel.
Suíte de Harry Potter em Edimburgo
A alusão à escritora não é à toa: foi lá que ela se hospedou por seis meses, do fim de 2006 ao início de 2017, com o objetivo de encontrar a tranquilidade necessária para escrever o final de Harry Potter e as Relíquias da Morte, o último livro da saga do bruxinho mais famoso do mundo.
Com 16 metros quadrados, a suíte mudou de patamar desde então, sobretudo quando Rowling revelou que deixou um recado lapidado na parte de trás de um busto do deus grego Hermes, que ainda hoje enfeita o quarto. A partir daí, o local passou a atrair fãs do mundo inteiro, que não se privam de pagar entre 1.000 e 2.500 libras para passar uma noite ali.
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Assim que a acomodação ficou pronta e sua porta roxa (que se destaca de todas as demais, brancas) foi aberta, a recepcionista do hotel, que fez questão de me acompanhar, tratou de me mostrar o quadro com a mensagem: “JK Rowling terminou de escrever ‘Harry Potter e as Relíquias da Morte’ neste quarto de hotel (552), em 11 de janeiro de 2007″. Ele está exposto próximo ao busto, hoje protegido por uma redoma de vidro e no qual mal dá para ver a peraltice de Rowling, já que o texto original lapidado vem se apagando com o tempo.
Reformada em 2017, a suíte ganhou diversas referências à escritora britânica e sua cria, como estantes vermelhas com enfeites de coruja, uma máquina de escrever antiga e uma edição especial de todos os livros de Harry Potter. A escrivaninha em que as últimas linhas da saga foram escritas não está mais lá, mas o banheiro, por exemplo, manteve o acabamento em mármore Carrara, da mesma forma que Rowling encontrou em 2006.
Apesar de ter deixado meu copo para trás, percebi que nem era preciso ter sorvido uma dose de uísque para ser abraçado pelo clima de magia da acomodação, reforçado pelos papéis de parede em tons pastéis com detalhes de estrelas, galhos e folhas, que remetem a uma floresta. A J. K. Rowling Suite é, de fato, um belo refúgio em Edimburgo, complementado pelo tradicional chá da tarde servido no Balmoral e pelo restaurante Number One, um dos poucos a ostentar uma estrela Michelin na cidade.
Mas o melhor de tudo é saber que o hotel fica próximo às principais atrações de Edimburgo – e não há poucas delas.
O que fazer em Edimburgo
A imagem um tanto quanto sinistra da capital da Escócia que costuma ser exibida por muitos filmes passa longe da realidade. Nos arredores da Royal Mile, a rua principal da Cidade Velha, e da Princes Street, ali pertinho, já na Cidade Nova, a vida pulsa em torno de belos parques, lojas de grife que vendem peças de cashmere, bons restaurantes e o som constante da gaita de fole tocada por moças e rapazes de saia, a famosa kilt.
Monumentos históricos também não faltam por lá. Só a Royal Mile (que tem uma milha, o equivalente a 1,6 km) tem um em cada ponta: o Palácio de Holyrood, casa da monarquia britânica quando está em Edimburgo, e o Castelo de Edimburgo, no alto de um morro e onipresente na paisagem local. Ambos podem ser visitados, sendo que o primeiro permite acesso aos apartamentos reais, mais modestos que os de Buckingham, e a uma antiga e bela abadia, já em ruínas.
O castelo, por outro lado, é um dos mais completos da Europa, com diversos museus. Ali dá para ver igrejas e capelas históricas, um aposento usado pela rainha Mary Stuart (que teve um fim trágico ao ser decapitada, mas transformou-se em uma das figuras mais importantes do país), uma exposição detalhada de armas de guerra e outra das joias da coroa. De quebra, das alamedas da edificação se tem uma linda vista da cidade, que alcança até o Mar do Norte.
Também é possível ver Edimburgo do alto desde o Calton Hill, ao fim da Princes Street. O monte, de fácil acesso a partir de uma escadaria, conta com lindos monumentos, ao ponto de ser apelidado de “Acrópole da Escócia”. Exageros à parte, rende uma bela visita, da mesma forma que o Jardim Botânico, palco da maior coleção de plantas chinesas fora do país asiático, e do The Royal Yacht Britannia , navio que pertenceu à coroa do Reino Unido e, hoje, se transformou em um interessante museu atracado no porto local.
Museu do Uísque em Edimburgo
Quando a noite cai (o que demora a ocorrer no verão, quando o dia permanece claro até meia-noite, mas chega cedo no inverno, antes mesmo das 17h), há pelo menos uma atração obrigatória em Edimburgo: a Scotch Whisky Experience. O tour, realizado em carrinhos em formato de barris, no maior estilo Disney World, conta como é feita a produção da bebida símbolo da Escócia, mas o melhor vem em seguida: uma degustação especial com direito a doses de rótulos como Tomatin, Talisker e The Balvenie.
O grand finale se dá em uma adega com a maior coleção de uísques escoceses do mundo, com 3.384 garrafas, que curiosamente foi vendida pelo brasileiro Claive Vidiz. No museu, um quadro traz a mensagem “o bom filho a casa torna”, uma referência de Vidiz ao envio de suas preciosidades de volta ao país em que foram produzidas. E que país!
Obs: Trecho de reportagem originalmente publicada na revista Viaje Mais Luxo, da Editora Europa.