Dicas de Viagem
Cruzeiros voltam aos EUA com dilema sobre passaporte da vacina
- Créditos/Foto:Divulgação
- 14/Julho/2021
- Paulo Basso Jr.
Desde o último dia 26 de junho, quando o navio Celebrity Edge zarpou de Port Everglades, próximo a Miami, na Flórida, carregando 1.100 passageiros e 800 tripulantes para um cruzeiro de sete dias rumo ao México e às Bahamas, a indústria americana de cruzeiros voltou a sorrir novamente. Esta foi a primeira viagem de uma temporada repleta de saídas programadas nos próximos meses a partir dos EUA, onde a navegação turística de grande porte manteve-se suspensa por 15 meses por conta da pandemia do novo coronavírus.
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O retorno dos cruzeiros à terra do Tio Sam chega com grande esperança de recuperação para o setor, cujo prejuízo acumulado em 2020 e no início de 2021 é estimado em US$ 25 bilhões. Para as companhias marítimas, o avanço da vacinação e a consequente queda das taxas de internação e mortalidade no país, aliados à forte demanda reprimida do turismo, posiciona o mercado americano, historicamente lucrativo, como uma espécie de tábua de salvação para a retomada das atividades em todo o mundo.
Neste post você vai ler:
Em busca de uma nova imagem
Cientes de que os navios são vistos por muitos turistas como incubadores de doenças – fato que se agravou no início de 2020, quando milhares de pessoas ao redor do mundo tiveram de ser isoladas e cumprir quarentena forçada em transatlânticos após a constatação de casos de covid-19 a bordo –, a indústria de cruzeiros luta, agora, para reverter essa imagem.
Por isso, aceitou de bom grado as exigências recentes do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) americano, que concordou em liberar as navegações turísticas no país com 98% dos tripulantes e 95% dos passageiros totalmente vacinados – não é 100% por conta, principalmente, dos menores que ainda têm acesso restrito aos imunizantes nos EUA, em uma tentativa de não inibir as viagens em família. Outras regras, como redução de capacidade, cuidados específicos de higienização e protocolos detalhados de embarque e desembarque, também fazem parte do pacote.
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Executivos de grandes companhias que navegam nos EUA, como Carnival Cruises, Royal Caribbean, Disney Cruises e Norwegian Cruise Line (só para citar algumas com sede na Flórida), não demoraram a ir à mídia com declarações de apoio a essa espécie de “passaporte da vacina”. Aliada a testes de covid-19 pré-embarque, a exigência de provas de imunização, segundo eles, transformaria as viagens de cruzeiro, neste momento, nas férias mais seguras do mundo.
Nem todos, porém, engoliram as diretrizes do CDC numa boa.
A volta dos cruzeiros versus o “passaporte da vacina”
Em 1º de julho, entrou em vigor na Flórida uma lei que proíbe as empresas locais de exigir que os clientes apresentem comprovante de vacinação. Ao anunciar a medida, ainda em maio, o governador republicado do estado, Ron DeSantis, afirmou em evento à imprensa que a escolha pessoal em relação às vacinas seria protegida e nenhuma entidade, governamental ou privada, poderia negar serviços com base em regras próprias.
No caso das companhias marítimas, a multa por descumprir a decisão pode chegar a US$ 5 mil por passageiro. Com isso, de uma hora para outra, o conceito do “passaporte da vacina”, que vinha sendo visto como um salva-vidas pelas armadoras que atuam nos EUA até tudo efetivamente se normalizar, entrou em xeque.
Ocorre que, a despeito de elas operarem em outros estados americanos, como Alasca e Texas, que decretaram que cada empresa poderia trabalhar da maneira que desejasse, seguindo ou não as regras do CDC (e quase todas optaram por seguir), a nova lei da Flórida soou como uma enorme âncora para suas pretensões. A prova disso é que a possibilidade exponenciada de cruzar com passageiros não imunizados a bordo levou diversos turistas a cancelar reservas nos cruzeiros que partiriam do estado.
Diante desse cenário, legisladores, especialistas e executivos de armadoras vêm debatendo arduamente a decisão da Flórida. Alguns acreditam que os direitos individuais devem ser preservados. Outros, que a imposição do estado que abriga os portos mais lucrativos para as navegações turísticas dos EUA (já que é de lá que partem a maioria das viagens para o Caribe) prejudica imensamente não apenas a nova imagem que o setor de viagens marítimas vem tentando construir, mas também a retomada do turismo de forma geral – e da própria economia americana.
Aqui, vale ressaltar que, antes da pandemia, a indústria dos cruzeiros gerava 160 mil empregos apenas na Flórida. Em 2019, 8,3 milhões dos 13,8 milhões de passageiros que embarcaram em um navio turístico nos EUA partiram do estado, de acordo com dados da Cruise Lines International Association.
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Nas últimas semanas, alguns políticos, especialmente democratas, voltaram-se publicamente contra a medida de DeSantis. “O governador está impondo sua vontade ditatorialmente às empresas que tentam proteger seus clientes, incluindo os de cruzeiros, dos quais nossa indústria agrícola depende para a geração de milhões em vendas de alimentos”, disse o comissário de agricultura da Flórida, Nikki Fried, para a rede “NBC News” – Fried é um possível candidato de oposição a DeSantis na próxima eleição estadual.
Christina Pushaw, porta-voz do governo, rebateu: “É quase inédito uma pessoa vacinada ficar gravemente doente com covid-19. Portanto, quem estiver imunizado não deve se preocupar com a possibilidade de ser infectado por outros”, declarou à “NBC News”.
Debandada da Flórida?
Enquanto a turma de DeSantis mostra-se irredutível, alegando ainda que diversas companhias marítimas que operam na região já se adaptaram à nova lei e servem de exemplo para outras, algumas empresas ameaçam simplesmente deixar a Flórida de lado na retomada da temporada de cruzeiros nos EUA.
A Norwegian Cruise Line, por exemplo, posicionou-se a favor do comprovante de vacinação obrigatório e decretou que passageiros de qualquer idade que não estejam totalmente vacinados, inclusive menores, não entrarão em seus navios ao menos até 31 de outubro. De acordo com o CEO da armadora, Frank Del Rio, “esse período é fundamental para testar todas as melhorias aplicadas nas embarcações e elevar a segurança a bordo a altos níveis”.
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Em teleconferência realizada na semana passada, Del Rio acrescentou que, apesar de lamentar, caso a empresa não tenha o direito de estipular suas regras, já existem estudos internos para criar um novo mercado com saídas de outros destinos, como o Texas e as próprias ilhas do Caribe. “Felizmente, os transatlânticos têm motores e hélices potentes e podem, rapidamente, deixar a Flórida e estabelecer bases em outros lugares”, afirmou em tom de ameaça.
Uma tentativa de acordo amigável chegou ao fim ontem (13 de julho), quando a Norwegian Cruise Line decidiu processar o estado. Na ação, a empresa alega que a lei que proíbe a exigência do comprovante de vacinação prejudica sua capacidade de impedir a propagação do vírus a bordo de seus navios. Como resultado, ela poderia ser forçada a cancelar os próximos cruzeiros, o que resultaria em uma “perda devastadora e irrecuperável”.
Além disso, a companhia diz, no processo, que a decisão do governo viola a Primeira Emenda ao bloquear as comunicações entre uma empresa e seus clientes, interrompe ilegalmente o fluxo adequado do comércio interestadual e internacional sem interesse substancial do estado e joga contra a Décima Quarta Emenda, uma vez que impede que uma companhia proteja a saúde e a segurança de seus funcionários e clientes em meio a uma pandemia.
Enquanto a briga dos bastidores não se resolvem, quem está pagando a conta são os viajantes.
Passageiros pagam a conta
Apesar de recomendarem fortemente a busca pela imunização e manterem a exigência da prova da vacina para os passageiros com mais de 16 anos (e a partir de agosto, os com mais de 12) que estão zarpando de todos os demais portos dos EUA, algumas empresas resolveram abrir exceção às viagens que começam na Flórida. É o caso da Royal Caribbean, dona do Symphony of the Seas, o maior navio do mundo.
Desde o fim de junho, inclusive, um de seus transatlânticos mais famosos, o Freedom of the Seas, vem realizando cruzeiros de quatro noites no Caribe, partindo de Miami, com a presença de pessoas não vacinadas contra covid-19 a bordo. Para isso, no entanto, a empresa estipulou uma série de regras polêmicas.
Para começar, os passageiros imunizados recebem uma pulseira amarela ao embarcar, de modo a serem diferenciados dos demais. A partir daí, eles têm acesso liberado a todas as atrações do navio, incluindo restaurantes, piscinas exclusivas e shows. Enfim, podem participar de uma viagem de lazer normal a bordo.
Quem não estiver totalmente vacinado ou não quiser apresentar o comprovante da vacina, por sua vez, se depara com uma experiência bem diferente. Em primeiro lugar, nesse caso, é obrigatório apresentar um seguro de viagem específico em relação à covid-19. Do contrário, o embarque não é liberado.
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Já a bordo do Freedom of the Seas, uma lista de restrições vem sendo atualizada semanalmente. Nas viagens mais recentes, quem não tinha a pulseirinha amarela estava automaticamente excluído do cassino, do spa, de alguns restaurantes, dos bares mais populares, de uma das piscinas e de uma das casas noturnas da embarcação.
Certas atividades temáticas, como shows e festas, também foram vetadas para os que não tinham o “passaporte da vacina”. De quebra, só era possível frequentar a academia em horários específicos, bem como apenas um dos andares do teatro durante as grandes apresentações.
Casos de covid-19 na retomada
Apesar do imbróglio com a Flórida, as companhias marítimas seguem animadas com a retomada dos cruzeiros nos EUA. Como não é possível descartar completamente contaminações a bordo mesmo nas viagens em que todos estejam comprovadamente vacinados, diversos protocolos de isolamento foram estabelecidos pelas armadoras.
As empresas mais populares se prontificaram, por exemplo, a realizar testes em quem apresentar sintomas durante a viagem. As medidas divulgadas nos sites da maioria delas indicam que, em caso de resultado positivo, os passageiros ou tripulantes serão retirados da embarcação assim que possível, junto a todos do grupo de familiares ou amigos que os acompanham, e colocados em quarentena.
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Foi o que aconteceu no American Constellation, da American Cruise Lines, em recente cruzeiro realizado no Alasca. Após dois casos positivos serem detectados a bordo, o navio voltou quatro dias antes do previsto para o porto da capital do estado, Juneau, onde os viajantes infectados desembarcaram e foram isolados em terra.
Nessas condições, cada companhia marítima está atuando com uma política diferente na retomada dos cruzeiros nos EUA – a qual os turistas devem concordar, com a assinatura de documentos, antes de embarcar. Algumas se responsabilizam com todas as despesas financeiras se alguém ficar doente a bordo. Outras deixam claro que, se o passageiro não seguir alguma das regras estabelecidas ou não tiver comprovante de vacinação, ele se compromete a arcar com todos os custos extras.