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Covid-19 pelo mundo: “muitos negócios já faliram”, diz brasileira que vive em Nova York
- Créditos/Foto:Julienne Schaer/NYC and Company
- 29/Abril/2020
- Paulo Basso Jr.
A cidade que nunca dorme está mais calada do que nunca – e assim deve ficar por muito tempo. Com mais de 170 mil casos de covid-19 registrados e mais de 5 mil mortes atreladas à pandemia, Nova York é, hoje, o lugar mais atingido pelo surto de coronavírus no mundo e epicentro de incidências nos Estados Unidos, que superou nesta semana a barreira de um milhão de testes positivos.
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É em meio a esse barulho que vive a publicitária Sil Curiati, moradora da Big Apple há dois anos e que já nota sinais de degradação social na região. “Nova York vive de eventos, engajamentos sociais, bares e restaurantes. Com o surto, muitos desses lugares já faliram, infelizmente”, diz.
“Imagino que, ao menos até o desenvolvimento da vacina, esses estabelecimentos continuarão sendo gravemente afetados. Afinal, mesmo que reabram daqui a um tempo, a ocupação deverá ser inferior à normal e regras sanitárias importantes terão de ser seguidas. Tudo isso mudará a dinâmica de uma cidade que é rápida e ágil por natureza, cheia de gente impaciente e acostumada a manter todos os lugares sempre lotados”, completa.
Covid-19 pelo mundo: Nova York, Estados Unidos
Apesar de ter, sozinha, mais casos de covid-19 do que a maioria dos países (as exceções, além dos Estados Unidos, são a Espanha e a Itália), Nova York não está em lockdown. A orientação por lá é para que as pessoas que não trabalham em serviços essenciais fiquem em casa, usem máscaras em locais públicos e mantenham distanciamento social de cerca de dois metros. Essas medidas, segundo Sil, foram relativamente respeitadas até o momento, mas o cenário deve mudar, para pior, nos próximos dias.
“O tempo está esquentando, e vemos mais e mais pessoas nas ruas. Com o volume de gente que vive em Nova York, respeitar as distâncias será algo cada vez mais complicado”, explica a publicitária. “Fora isso, ainda tem muita gente sem máscara nas ruas, principalmente fazendo exercícios. Muitos pensam que não há problemas, mas o fato é que o contágio pode aumentar drasticamente entre esportistas. A distância recomendada aos corredores, por exemplo, é o dobro da indicada a quem está apenas caminhando. A máscara é essencial e acho que, nesse ponto, há muito desrespeito”.
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FILMES E SÉRIES INSPIRAM PASSEIOS EM NOVA YORK
Por outro lado, Sil credita o grande número de casos de coronavírus na Big Apple ao fato de testes em massa serem realizados por lá. Segundo Andrew Cuomo, governador do estado de Nova York, cerca de 20 mil exames são realizados diariamente na cidade, e a ideia é dobrar esse número em breve.
“Por conta disso, as estatísticas acabam sendo mais acuradas por aqui. Isso sem contar que os casos de covid-19 são reportados devidamente, e não como meras doenças respiratórias previamente conhecidas” explica.
Home office em Nova York
Além de publicitária, Sil é criadora digital nas horas vagas. Entre seus projetos estão o podcast Que Borra É Essa? e o perfil de estilo de vida no Instagram @silcuriati.us. Como com quase todos os profissionais que se viram forçados a fazer home office, sua rotina foi bastante afetada nos últimos dias.
“Eu e meu marido estamos trabalhando em casa e passamos o dia em videoconferências. Tivemos que aprender a dividir o espaço, respeitar o volume da voz e usar fone o dia inteiro – o que me cansa a cabeça e o ouvido” conta.
A tática, porém, vem dando certo. De acordo com Sil, as produções do podcast estão a todo o vapor, e isso a tem levado a conhecer muita gente bacana. “De alguma forma, a pandemia aproximou e criou novas conexões para nós. Em breve, por exemplo, vamos fazer um programa especial para debater como os casais sem filhos estão passando por todo esse processo, pois esse tema se tornou recorrente em nossas conversas”.
A moradora de Nova York, inclusive, tem dicas nesse sentido e explica que um dos segredos para criar um ambiente saudável em casa em tempos de quarentena é preservar as áreas de lazer. “Aqui, procuramos não fazer calls no nosso quarto. Lá, (o ambiente) é sagrado. Evitamos também fazer reuniões no sofá da sala, no qual sentamos para papear, relaxar, ver TV. Assim, mantemos uma noção de espaços distintos para atividades diversas, o que ajuda bastante a desligar a chave quando é preciso”, explica.
Novos hábitos para o futuro
Cozinhar e fazer exercícios em casa são outras atividades às quais Sil recorre para manter a cabeça em ordem. “Faço exercícios todo dia, como sempre fiz, mas meu aeróbico, que costumava ser ao ar livre, com bike, corrida e caminhada, virou treino de boxe com óculos de realidade virtual. Viciei tanto que devo levar esse hábito para o futuro, somado a novos aprendizados”, afirma.
O que mudou também na vida pessoal de Sil foi o tempo dedicado às compras. “Antes, atravessava a rua e, em 15 minutos, estava de volta, com tudo resolvido. Agora, demoro quase uma hora. Isso porque temos que limpar tudo com lenço e cloro, bem como lavar as frutas e legumes com água e detergente antes de colocá-las em qualquer superfície da casa. Meu marido pega as compras com luva e limpa tudo. Depois, passa para mim, que as guardo”, conta.
Enquanto se adapta à nova realidade, Sil arrisca alguns exercícios de futurologia não só para quem vive em Nova York, mas em diversas outras partes do mundo. “Tenho uma função global onde trabalho, então vivia viajando. No geral, acho que isso será reduzido ao estritamente essencial. As viagens devem diminuir como um todo, pois as pessoas deverão pesar se querem ou não correr o risco de ser contaminadas. Ao menos até termos a vacina”, afirma.
Por outro lado, a publicitária acredita que surgirão diversas oportunidades para a criação de experiências digitais, mesmo porque shows, eventos esportivos e outros ambientes que lidam com aglomeração de pessoas deverão ser afetados por um bom tempo. “Recentemente, o game NBA 2K colocou atletas profissionais de basquete para jogar partidas virtuais e as transmitiu pela TV. Foi bem legal, e acho que muita coisa nova surgirá nesse sentido”.
Para que o mundo aprenda novas lições, entretanto, a moradora de Nova York sentencia: “Só vamos voltar a ter uma vida normal quando houver mais espaço no sistema de saúde para cuidar dos enfermos, sem contar a vacina. Para ter um futuro melhor, entretanto, a gente tem que entender que é preciso respeitar as regras sugeridas hoje”, finaliza.
Covid-19 pelo mundo: série de entrevistas
O Rota de Férias e o Busca Voluntária estão conversando com pessoas de todo o planeta para saber como o coronavírus está afetando a realidade de suas cidades. Confira os outros capítulos da série:
Capítulo 1: COVID-19 PELO MUNDO: ADVOGADA RELATA O DIA A DIA NA CIDADE DO MÉXICO
Capítulo 2: COVID-19 PELO MUNDO: BRASILEIRA CONTA COMO ESTÁ A VIDA EM SANTIAGO
Capítulo 3: COVID-19 PELO MUNDO: “ESTAMOS MELHORANDO AOS POUCOS”, DIZ MORADOR DE BRÉSCIA
Capítulo 4: COVID-19 PELO MUNDO: AMERICANOS CONTAM COMO ESTÁ A VIDA EM DENVER
Capítulo 5: COVID-19 PELO MUNDO: BRASILEIRO FALA SOBRE A QUARENTENA NO CANADÁ
Capítulo 6: COVID-19 PELO MUNDO: ESTUDANTE VISLUMBRA CAOS NO MÉXICO PÓS-PANDEMIA