Dicas de Viagem

Crônicas na Bagagem: casal está há um ano nas estradas da América do Sul

  • Créditos/Foto:Divulgação
  • 18/Fevereiro/2020
  • Luchelle Furtado

Há um ano, exatamente em 18 de fevereiro de 2019, Carina Furlanetto e João Paulo Mileski, casal de jornalistas que estão juntos há dez anos, partiam para uma jornada de autoconhecimento pelos encantos da América do Sul. Ao longo desses 365 dias na estrada, a bordo de um Renault Sandero 1.0, o casal colecionou histórias que são compartilhadas diariamente no Instagram do Crônicas na Bagagem.

O Rota de Férias conversou com os dois para saber mais sobre a história do casal, quando tudo começou e quais são os próximos objetivos, já que eles continuam na estrada. Confira a entrevista completa.

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Casal está viajando desde 18/02/20 | Divulgação
Casal está viajando desde 18/02/20

Crônicas na Bagagem: conheça Carina e João

Como tudo começou e qual foi o processo de criação do “Crônicas na Bagagem”?

Estamos juntos desde junho de 2010. Somos jornalistas e nos conhecemos trabalhando – cobríamos a editoria de esportes em jornais concorrentes na cidade. No final de 2015, enquanto planejávamos uma viagem de carro até o Uruguai, durante as férias, nos deparamos com sites e blogs de viagens e começamos a ter os primeiros contatos com o universo de “gente que larga tudo para viajar”. Surgiu a ideia de criarmos algo para falar sobre as nossas viagens, mas que não fosse no estilo “o que fazer em tal lugar”. A ideia seriam textos que falassem mais sobre a nossa experiência em si. Entre as diversas possibilidades de nome, surgiu o “Crônicas na Bagagem”. Crônicas é um dos nossos estilos literários preferidos, justamente pela versatilidade. Bagagem pode se referir tanto à mala e outros objetos carregados durante uma viagem, mas também, de forma figurada, à experiência de vida como um todo. Dessa vida nada levamos, a não ser as experiências que vivemos e se essas vivências virarem texto, o que teremos serão crônicas na bagagem.

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Quando decidiram, de fato, cair na estrada?

Em 2015, criamos o primeiro esboço do logotipo: uma mistura entre uma mala e um balão de fala, do qual parte um avião de papel . A viagem para o Uruguai de carro aconteceu, mas apesar disso o blog não saiu do papel porque estávamos esperando algo maior do que apenas uma semana de férias. Nestes três anos muita coisa rolou, incluindo iniciar outra faculdade – a Carina começou a cursar Psicologia e o João, Filosofia. A ideia de “largar tudo” e viajar ficou adormecida aguardando o “momento ideal”, que pensávamos ser depois da formatura ou com uma demissão repentina. No início de 2017, fizemos outra viagem longa de carro. Foram 16 dias até Minas Gerais. Não só reacendemos o desejo de uma viagem mais longa, como também conhecemos casais que estavam fazendo isso, mostrando que não era pura utopia nossa. No início de 2018, iniciamos um processo de autodescoberta, questionando muitas das coisas que estavam acontecendo nas nossas vidas, incluindo a atuação profissional. O desejo de resgatar o projeto da gaveta foi ficando cada vez mais latente e decidimos que não valia a pena esperar pelas condições ideais, porque talvez elas nunca fossem chegar. Recriamos o logotipo, mantendo a mesma concepção original e acrescentamos nele um subtítulo: “uma jornada de autoconhecimento”, que é o que estamos nos propondo a fazer. Ao nos permitir conhecer outros lugares e outras culturas, entramos, de certa forma, cada vez mais em contato com quem somos, porque ao olhar para fora a gente também olha para dentro.

Como foi feito o planejamento?

Desde que decidimos que iríamos fazer a viagem – no segundo trimestre de 2018 – começamos a ir atrás do que era preciso para ela acontecer. O mais urgente era alugar nosso apartamento para termos uma fonte de renda e adaptar nosso gato ao apartamento dos meus pais. Com a confirmação do aluguel do apartamento, oficializamos o projeto. Por algumas discordâncias, o João acabou sendo demitido alguns meses antes do que o programado para pedir demissão, em setembro. A Carina pediu demissão em novembro. Tínhamos uma viagem de férias já paga e programada desde o início do ano (mochilão de um mês na Europa), antes da decisão de dar andamento ao projeto, e então a viagem de carro só poderia iniciar depois dessa. Como estávamos trabalhando e estudando e ainda tínhamos os preparativos da viagem de férias, deixamos para montar o roteiro uma semana antes da partida e, obviamente, não deu tempo de programar muita coisa – conseguimos apenas para Uruguai, Argentina e Chile. Deixamos de consultar o planejamento ainda no primeiro mês de viagem, mudando de planos várias vezes: descartamos algumas cidades, incluímos outras e também ajustamos o tempo de permanência em cada uma delas. O único país em que seguimos mais a risca a programação foi no Uruguai, onde ficamos por 12 dias e em 9 tínhamos casas de pessoas para nos receber – via Couchsurfing, um aplicativo para troca de hospedagem e que oferece mais do que apenas uma cama grátis para dormir. É um verdadeiro intercâmbio cultural. Da Bolívia em diante, não tínhamos pesquisado nada antes de sair e fomos montando o roteiro na estrada mesmo, definindo a rota com poucas semanas ou dias de antecedência.

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Eles produzem crônicas com base em suas experiências de viagens | Divulgação
Eles produzem crônicas com base em suas experiências de viagens

Vocês estão há um ano viajando. Desde que começaram a fazer essa viagem, como vocês vêm se mantendo?

Sempre fomos muito econômicos desde que começamos a trabalhar e então já tínhamos uma grana reservada. Juntamos sem o propósito específico de viajar e sem muito planejamento. Quando decidimos pela viagem, calculamos se o que tínhamos, mais o que entraria do aluguel do apartamento, seria suficiente para nos manter por dois anos na estrada, gastando até R$ 100 por dia. No momento está um pouco acima, mas acreditamos que no Brasil conseguimos equilibrar as contas, já que sempre há perdas com câmbio no exterior.

Vocês estão viajando com Renault Sandero 2014. Por que decidiram fazer essa aventura de carro?

Não é o carro que se convenciona como ideal para uma aventura como essa, mas é o que tínhamos. Pensamos em comprar uma Kombi ou um veículo maior, mas no dia em que somaríamos dinheiro para isso, talvez a vontade de viajar já não fosse mais a mesma. Decidimos não esperar pelas condições ideais e sair com o que tínhamos.

O Renault Sandero 2014 de vocês não tem nenhuma modificação, diferentemente de outras pessoas que fazem roadtrip com veículos 4 x 4 ou motorhome. Quais os cuidados que vocês tomam com o carro? Fazem manutenção constantemente?

Compramos o carro novo e desde a partida para essa viagem, sempre realizamos as manutenções em dia, em concessionárias autorizadas da Renault. Sempre foi um carro confiável para a gente. Fora do País, sempre tentamos, a cada 10 mil quilômetros, realizar uma revisão, também em concessionárias autorizadas, e até agora não tivemos nenhum grande problema. O maior investimento foi a troca da bateria – ainda estávamos com a original – no Peru, e a troca de outras peças pontuais. Sempre foram reposições preventivas, não chegamos a ficar empenhados em momento algum por algum problema no Sandero. Voltamos ao Brasil com uma média de gastos um pouco acima do que planejamos, então aqui vamos tentar parcerias para revisões ou buscar recomendações de mecânicas confiáveis que não necessariamente sejam autorizadas da Renault, já que nesses casos o preço costuma ser mais barato.

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Desde 2019, os dois viagem em um Sandero 1.0, pela América do Sul | Divulgação
Desde 2019, os dois viajam em um Sandero 1.0, pela América do Sul

Algumas vezes, vocês fazem transformam o Sandero em moradia. Quais as principais vantagens de fazer uma viagem de carro? E as maiores dificuldades?

A viagem de carro traz mais liberdade de fazer o próprio roteiro, podendo parar sem pressa para contemplar a paisagem e desviando da rota se descobrimos algo interessante pelo caminho, mesmo que não estava nos planos. Uma das desvantagens é o gasto com combustível, mas no nosso caso temos a vantagem de ter um carro 1.0 e com isso gastamos menos do que carros maiores e mais confortáveis.

A América do Sul tem uma cultura bem diversificada. De todos os lugares que já visitaram, quais foram os mais encantadores que conheceram?

A Argentina, em especial a Patagônia, foi um dos destinos que mais nos atraiu. Não somos fãs de praia e nem de grandes cidades, preferimos destinos em que podemos entrar em contato com a natureza e a Patagônia foi perfeita para isso. Em termos de receptividade, o povo brasileiro certamente ganha, mas podemos destacar também a acolhida que tivemos na Venezuela – talvez os mais parecidos com os brasileiros nesse sentido. Na questão cultural, a Bolívia é um dos países que mais chama atenção, pois parece preservar muito suas tradições, sem tanta influência externa. Vemos as cholitas nas ruas (como são chamadas as senhoras com seus trajes típicos de saia, tranças, chapéu) e a gastronomia local é bem marcante. O país não tem McDonald’s, por exemplo. Mas em relação a sabores, nada se compara ao que estamos descobrindo aqui no Brasil, especialmente na região Norte, que é por onde começamos a explorar. Para nós, que somos do sul, há uma variedade de frutas desconhecidas, sem falar dos saborosos peixes de água doce.

Atualmente, vocês contam com mais de 78 mil seguidores no Instagram. Hoje, vocês lucram com as redes sociais?

O nosso número de seguidores no Instagram cresceu muito rápido, em dezembro, quando postamos um texto em grupos do Facebook e ele viralizou. Ganhamos mais de 50 mil seguidores em uma semana. Esse alcance todo, portanto, ainda é novidade para a gente. De qualquer forma, o crescimento do perfil já nos ajudou a conseguir parcerias para passeios e hospedagens em hostels, além de convites de pessoas que nos seguem, para hospedagem em suas casas. Mas ainda não ganhamos dinheiro com isso. Continuamos mantendo nosso projeto apenas com as nossas economias e o aluguel do nosso apartamento, que cobre um terço das despesas. Estamos estudando a possibilidade de criar alguns produtos para tentar vender e assim passar a ter uma nova fonte de renda.

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Os jornalistas gostam de destinos para se conectar com a natureza | Divulgação
Os jornalistas gostam de destinos para se conectar com a natureza

Quais equipamentos você usa para postar fotos e vídeos?

Usamos uma Canon T3i, uma GoPro Hero 6, um celular Moto G7 e um Samsung Galaxy A30s. Todas a fotos são feitas por nós, eventualmente com ajuda de um tripé.

Vocês estão viajando há um ano. Quais os próximos objetivos?

Já passamos por 10 países da América do Sul e agora queremos conhecer todos os estados do Brasil. No momento, estamos no Amapá, nosso quinto estado. Tentamos não pensar muito no que pode acontecer depois disso, justamente para nos concentrar no que estamos vivendo agora. Mas escrever um livro sobre todas essas experiências sempre foi o plano e também sonhamos em viajar, um dia, para a África ou para o Alasca.

Quais dicas vocês dariam para quem deseja cair na estrada e viajar assim como vocês fizeram?

Sempre falamos que o mais importante é a vontade de ir, que para o resto sempre se dá um jeito. No nosso caso não teve tanto planejamento e nos adaptamos bem, mas algumas pessoas podem sentir a necessidade de ter uma organização maior. Nesse caso, sempre é bom acompanhar outros viajantes nas redes sociais, para familiarizar-se com esse mundo. Não acreditamos que exista uma fórmula única de como viabilizar este tipo de aventura já que cada viagem é única, porque cada viajante tem seus gostos e necessidades.

Como a família lidou quando vocês decidiram fazer essa viagem de carro e explorar a América do Sul?

Ao contar a ideia, a primeira reação natural é a de preocupação, afinal estávamos nos jogando em um mundo ainda desconhecido para eles. Aos poucos, foram curtindo a ideia e, com as redes sociais, é como se viajassem com a gente. A saudade é a pior parte da viagem, mas sempre estamos mandando mensagem ou fazendo chamada de vídeo para nos sentirmos mais perto.

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Atualmente, os dois estão viajando pelos estados brasileiros | Divulgação
Atualmente, os dois estão viajando pelos estados brasileiros

Vocês misturam conteúdo fotográfico e crônicas na página do Instagram. Qual o foco de vocês nas redes sociais, como fazem o planejamento de conteúdo e de postagem?

Nosso foco são as crônicas. Antes de sair de casa definimos que escreveríamos todos dias, intercalando um texto cada um, com uma foto inédita feita naquele dia. Às vezes, vamos para algum lugar mais isolado e as postagens podem subir atrasadas, mas sempre mantemos a sequência dos dias. Fora isso, nos stories compartilhamos o dia a dia dos nossos passeios, perrengues e descobertas, mas sem muito planejamento.

Tem alguma coisa que vocês gostariam de ressaltar?

Muitas pessoas nos escrevem buscando saber exatamente como planejamos para tornar a nossa viagem possível, mas não há uma receita de bolo, nós tivemos uma soma de fatores que nos impulsionam a viver tudo isso, e as circunstâncias são muito pessoais. Sair pelo mundo sem destino e data para voltar não é necessariamente sinônimo de felicidade. Nós viajamos apenas para olhar para fora, mas sobretudo para nós mesmos, e uma viagem interior inclui o que nos traz alegria, mas também as angústias e fraquezas. É para nos autodescobrirmos, a cada dia mais, que continuamos.

52 lugares para ir em 2020

Anualmente, os jornalistas do The New York Times fazem uma lista de lugares para viajar. Em 2020, as opções contam com destinos montanhosos, praianos, culturais, históricos e de contemplação. O Brasil é representado na seleção com a Mata Atlântica. Para conferir o levantamento completo, veja as fotos da galeria:

 

2 - Ilhas Virgens Britânicas | Pixabay The New York Times aponta os 52 lugares para visitar em 2020
11 - Parques Nacionais, China | Pixabay The New York Times aponta os 52 lugares para visitar em 2020
24 - Christchurch, Nova Zelândia | Pixabay The New York Times aponta os 52 lugares para visitar em 2020
32 - Lake District, Inglaterra | Pixabay The New York Times aponta os 52 lugares para visitar em 2020
50 - Alpes da Transilvânia, Romênia | Pixabay The New York Times aponta os 52 lugares para visitar em 2020
52 - Parque Nacional Glacier, EUA | Pixabay The New York Times aponta os 52 lugares para visitar em 2020

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